Os Estados Unidos querem acelerar projetos de cooperação com o Brasil na área de biocombustíveis para explorar terceiros mercados e criar um mercado global de etanol. Apesar da recente crise de oferta no Brasil e das incertezas que ainda cercam a manutenção dos subsídios nos EUA, o governo americano buscará a transformação do etanol em commodity, assegura Daniel Poneman, número 2 do Departamento de Energia.
"É nosso objetivo ver a sua 'commoditização'. Podemos encontrar mais mercados no mundo e expandir a demanda", disse o secretário-adjunto de Energia, após reuniões com autoridades brasileiras, que encerraram visita de três dias ao país.
Poneman e o secretário-executivo de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, lançaram um Diálogo Estratégico de Energia que engloba quatro áreas: biocombustíveis e energias renováveis; petróleo e gás natural; eficiência energética; e energia nuclear. Esse mecanismo aprofunda o memorando de entendimentos na área de etanol, assinado em 2007, que previa cooperação em pesquisa, padronização do produto e desenvolvimento de produção em terceiros mercados. Os presidentes Barack Obama e Dilma Rousseff, no encontro que tiveram em março, prometeram dar novo impulso ao acordo.
Poneman diz que os dois países devem expandir, para outros países, a cooperação que já têm para desenvolver a produção de etanol na América Central e no Caribe. Também pediu ênfase na definição de padrões e normas técnicas. Sem isso, acredita, será difícil colocar biocombustíveis no mercado internacional. "Uma das questões importantes que devemos levar em conta é estabelecer normas e padrões para que, por exemplo, veículos flex fuel possam aceitar diferentes biocombustíveis", diz.
Para ele, dificuldades momentâneas em suprir a demanda – como a recente crise de oferta na entressafra brasileira – não devem ser vistas como impedimento para transformar o etanol em commodity negociada internacionalmente. Poneman destaca a importância de desenvolver formas mais competitivas de produção, especialmente com a nova geração de etanol, e estimular novas demandas, como a aplicação de biocombustíveis na aviação, alvo de parceria entre Embraer e Boeing.
De acordo com ele, os EUA acabaram de entrar na segunda rodada de aumento dos padrões de eficiência exigidos da indústria de veículos, que elevarão o gasto de combustível para cerca de 23 quilômetros por litro até 2025. Isso também pode gerar demanda adicional para biocombustíveis que possam ser misturados à gasolina.
Nesta semana, Obama anunciou a distribuição de subsídios no valor de US$ 510 milhões para estimular a produção de biocombustíveis que não sejam processados a partir do milho. Os recursos cobrirão os custos de construção e readequação de refinarias para os chamados biocombustíveis avançados, produzidos a partir de resíduos de animais, algas e outros materiais. O produto resultante poderá ser usado em aeronaves, navios e outros equipamentos.
Para Poneman, o Brasil será um "grande fornecedor" de petróleo dos EUA, com o desenvolvimento do pré-sal. Ele garante que as regras do setor agradam às petrolíferas americanas. "As empresas estão muito entusiasmadas com as oportunidades que veem aqui."