ANDREA MURTA
Os EUA impuseram ontem sanções ao ditador da Síria, Bashar Assad, e a seis altos assessores por abusos dos direitos humanos praticados na esteira dos protestos por democracia que, segundo ativistas, já mataram pelo menos 700 pessoas nos últimos dois meses.
A ação dura chega na véspera de um importante discurso do presidente Barack Obama sobre a política externa americana para o Oriente Médio e em meio às revoltas árabes e a novas tensões no impasse israelo-palestino.
Na prática, ficam congelados bens das pessoas afetadas pelas sanções. Indivíduos americanos e empresas sob jurisdição do país não podem negociar com elas.
Simbolicamente, é uma mudança importante na política americana ao país.
Antes considerado um líder com potencial modernizador, Assad ontem reconheceu que houve erros na repressão e culpou a polícia.
Em vão. As sanções já foram seguidas por pedidos de ações semelhantes em países como Alemanha e Suíça, e cresceram especulações sobre pressão internacional pela saída do sírio do poder.
Na contramão das sanções à Síria, Obama deve anunciar, ainda na fala de hoje, um pacote de ajuda econômica para incentivar a democratização na Tunísia e no Egito, onde ditadores foram varridos do poder por revoltas no início deste ano.
A medida inclui inicialmente US$ 1 bilhão em alívio de dívida para o Egito, além de outro US$ 1 bilhão em empréstimos. Washington também quer uma iniciativa de comércio e investimento para o Oriente Médio e o norte da África e construir um pacto regional de comércio.
Se os levantes contra ditadores árabes devem ser o foco do discurso de Obama, ele também vem tentando ligar a ebulição na região ao impasse entre Israel e os palestinos.
E faz isso um dia antes de se reunir com o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, na Casa Branca para discutir as interrompidas negociações de paz.
O momento é delicado. O enviado especial de Obama ao Oriente Médio, George Mitchell, acaba de renunciar, frustrado com o impasse.
Israel considera praticamente impossível voltar à mesa com os palestinos depois do anúncio em abril de acordo entre o laico Fatah, que controla a Cisjordânia, e o radical Hamas, que governa a faixa de Gaza e é considerado terrorista por EUA e israelenses.
Já os palestinos estão se esforçando para buscar reconhecimento para um Estado na ONU em setembro, contrariando não apenas Israel mas também os EUA, que não aprovam o processo sem negociação.