Contrariando expectativas, a economia dos EUA encolheu a uma taxa anualizada de 0,1% no quarto trimestre de 2012, indicam estimativas oficiais divulgadas nesta quarta-feira pelo Departamento de Comércio.
A maior economia do mundo havia crescido 3,1% no trimestre de julho a setembro. Economistas creem que, no trimestre seguinte, o resultado foi afetado pelas tensões envolvendo o chamado "abismo fiscal" – os cortes de gastos e a elevação de impostos previstos para vigorar no início deste ano.
O gatilho foi evitado no último minuto por um acordo no Congresso, mas pode ter surtido efeito negativo na confiança dos empresários, que decidiram interromper a restituição dos seus estoques nos últimos três meses do ano, acreditam analistas.
Se o número for confirmado – estas estatísticas são preliminares e serão revisadas duas vezes nos próximos dois meses –, será a primeira contração econômica dos EUA desde a recessão global de 2009.
Forças opostas
Entretanto, os resultados indicaram duas tendências opostas: primeiro, uma redução nos gastos do governo, em linha com os fins das medidas anticíclicas postas em prática durante os primeiros quatro anos do governo do presidente Barack Obama.
Os gastos de defesa, em particular, tiveram a sua maior redução (22%) desde 1972, quando os EUA estavam saindo da Guerra do Vietnã.
Por outro lado, os números indicaram saúde no setor privado: os gastos dos consumidores continuam acelerando, passando de um ritmo de 1,6% no terceiro trimestre para 2,2% nos três meses seguintes. Houve também sinais de recuperação no mercado imobiliário.
Ao mesmo tempo, um relatório separado sobre o emprego divulgado nesta quarta-feira – os números do instituto de pesquisas ADP, com sede em Nova Jersey – indicou que o mercado de trabalho acrescentou 192 mil vagas em janeiro, o ritmo mais forte de crescimento desde fevereiro do ano passado.
Os números oficiais do emprego nos EUA no primeiro trimestre serão divulgados na próxima sexta-feira pelo Escritório das Estatísticas do Trabalho.
Analistas apontam a recuperação do mercado de ações e a volta do apetite por riscos no início deste ano como sinais de que o crescimento da economia americana será em 2013 puxado pelo setor privado.
Quando se considera todo o ano de 2012, as estimativas iniciais apontam um crescimento de 2,2% da economia americana, uma aceleração em relação ao 1,8% registrado em 2011.
Para este ano, organizações como o Fundo Monetário Internacional (FMI) projetam um crescimento econômico de 2% para o país.
'Boa forma'
O analista Peter Newland, do banco Barclays em Londres, notou que, à parte o peso dos gastos de defesa e dos estoques, o relatório sobre a economia americana "teve um tom positivo".
Paul Ashworth, da Capital Economics, descreveu o resultado como "a contração com melhor forma que se verá no PIB americano".
"O efeito negativo vindo do setor de defesa e dos estoques acontece apenas uma vez: o resto do relatório é animador", resumiu.
Ainda assim, o encolhimento econômico do quarto trimestre deve aumentar a pressão sobre o Fed (banco central americano) para manter as suas medidas de estímulo da economia.
O Fed, que encerrou sua reunião nesta quarta-feira, disse que continuaria com o seu programa de compra de títulos do governo e manteria os juros da economia quase zerados até que o desemprego baixe dos atuais 7,8% para 6,5%, desde que a inflação permaneça sob controle.
Efeitos no Brasil
À parte um efeito negativo nas bolsas nesta quarta-feira, economistas não acreditam que a desaceleração da economia americana tenha grande impacto na recuperação econômica mundial.
O economista Marcos Troyjo, diretor do centro de estudos sobre os países Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), da Universidade de Columbia, em Nova York, crê que pelo menos para o Brasil os efeitos serão inexistentes.
"Tudo o que se podia creditar à crise internacional como inibidor do crescimento (no Brasil) já foi feito", disse Troyjo.
Ele observou que outras economias latino-americanas, inclusive que possuem laços estreitos com os EUA, como Colômbia, Peru e México, "estão se expandindo bem acima do Brasil". O crescimento brasileiro neste momento é metade do crescimento americano e mais lento que o de outros países Bric.
"Esse subdesempenho brasileiro está menos influenciado por problemas nas economias avançadas e mais pelas limitações do ambiente interno de negócios no país", argumentou o economista.
"Vamos perdendo apelo em comparação com outros países por não nos dedicarmos ao necessário 'choque de competitividade' que adviria de uma rápida adoção das reformas microeconômicas."