Os Estados Unidos esperam que o Brasil contribua para reforçar a pressão internacional contra o regime da Síria para que o presidente Bashar al-Assad "se retire imediatamente" do poder e permita uma transição democrática. "Obviamente queríamos observar que o Brasil trabalha conosco e com os demais países em ajudar a pressionar Assad", disse o subsecretário de Assuntos Públicos do Departamento de Estado americano, Mike Hammer, durante uma entrevista coletiva nesta quinta-feira, ao ser perguntado sobre a resistência brasileira a se alinhar com os EUA nesta questão.
A presidente Dilma Rousseff será recebida na Casa Branca dentro de um mês pelo presidente dos EUA, Barack Obama, em sua primeira visita oficial a Washington desde que assumiu o cargo. "Nossas relações com o Brasil são muito próximas. Compartilhamos muitas posturas com o Brasil e há algumas nas quais talvez não estejamos de acordo", admitiu Hammer. "No caso da Síria, há um consenso internacional bastante forte que se têm de exercer pressões para acabar com esta violência tão trágica".
Segundo o porta-voz do Departamento de Estado, a questão síria pode ser um dos temas a serem discutidos durante a visita da presidente Dilma, no dia 9 de abril. "Temos frequentes contatos com o governo brasileiro porque queremos unir nossas posturas quando possível e porque achamos que, trabalhando juntos, poderemos enfrentar esses desafios globais", declarou Hammer.
Damasco de Assad desafia oposição, Primavera e Ocidente
Após derrubar os governos de Tunísia e Egito e de sobreviver a uma guerra na Líbia, a Primavera Árabe vive na Síria um de seus episódios mais complexos. Foi em meados do primeiro semestre de 2011 que sírios começaram a sair às ruas para pedir reformas políticas e mesmo a renúncia do presidente Bashar al-Assad, mas, aos poucos, os protestos começaram a ser desafiados por uma repressão crescente que coloca em xeque tanto o governo de Damasco como a própria situação da oposição da Síria.
A partir junho de 2011, a situação síria, mais sinuosa e fechada que as de Tunísia e Egito, começou a ficar exposta. Crise de refugiados na Turquia e ataques às embaixadas dos EUA e França em Damasco expandiram a repercussão e o tom das críticas do Ocidente. Em agosto a situação mudou de perspectiva e, após a Turquia tomar posição, os vizinhos romperam o silêncio. A Liga Árabe, principal representação das nações árabes, manifestou-se sobre a crise e posteriormente decidiu pela suspensão da Síria do grupo, aumentando ainda mais a pressão ocidental, ancorada pela ONU.
Mas Damasco resiste. Observadores árabes foram enviados ao país para investigar o massacre de opositores, sem surtir grandes efeitos. No início de fevereiro de 2012, quando completavam-se 30 anos do massacre de Hama, as forças de Assad iniciaram uma investida contra Homs, reduto da oposição. Pouco depois, a ONU preparou um plano que negociava a saída pacífica de Assad, mas Rússia e China vetaram a resolução, frustrando qualquer chance de intervenção, que já era complicada. Uma ONG ligada à oposição estima que pelo menos 8,5 mil pessoas já tenham morrido, número superior aos 7,5 mil calculados pela ONU.