A imprensa francesa traz nesta segunda-feira (21) expectativas e análises sobre a 15ª Cúpula do Brics, que começa amanhã em Joanesburgo. O site de informação Médiapart diz que raramente um encontro entre os líderes de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul foi acompanhado com tanta atenção.
RFI
“Sob a impulsão da China, o clube [de emergentes] busca ampliar sua influência para afirmar seu poder em relação ao Ocidente”, diz o portal Médiapart, assinalando que os Estados Unidos e a União Europeia temem a formação de uma aliança política capaz de virar a mesa da atual ordem mundial.
“Sem expressar isso abertamente, os líderes ocidentais temem que essa cúpula amplie o divórcio que surgiu durante a votação sobre a guerra na Ucrânia em março de 2022, quando quarenta países – e não os de menor importância – optaram por se abster ou votar contra a resolução [da ONU] que condenava a invasão russa”, recorda o Médiapart.
Segundo o veículo francês, os interesses diplomáticos e econômicos dessa cúpula ultrapassam o tema do desenvolvimento na África, como sugere resumidamente o título do encontro. “Mesmo que o continente africano pareça ser o novo campo de batalha entre as potências estabelecidas e as potências em ascensão, o objetivo vai muito além disso: é afirmar o novo equilíbrio de poder político e econômico que se desenvolveu nos últimos anos, para desafiar uma ordem mundial construída por e para o Ocidente”, avalia o Médiapart. O site questiona se “estamos testemunhando a criação de um novo bloco geopolítico e econômico, campo contra campo, como na Guerra Fria, como alguns ameaçam”.
Dependência de moedas
O canal BFMTV aborda um dos assuntos em discussão na agenda econômica: a redução de dependência do dólar e do euro desejada pelo Brics. De acordo com um analista da emissora, a China quer estimular o uso de moedas locais nas trocas comerciais entre os países do grupo, mas a criação de uma moeda comum para o comércio entre os emergentes ainda é um objetivo distante, de médio ou longo prazo, na opinião de vários especialistas.
Um banco holandês publicou recentemente um relatório demonstrando que o projeto de moeda do Brics lastreado no yuan, a moeda chinesa, e em títulos Panda, como são chamadas as obrigações emitidas internamente na China, é tecnicamente impossível pelo baixo volume de emissões, atualmente. Outra questão relevante é que a Índia não teria nenhum interesse em se desfazer das operações em dólar para fortalecer a moeda chinesa. Por essas e outras razões, os especialistas acreditam que o Brics vai buscar aprofundar as trocas em moedas locais.
Outros fatores que neste momento não oferecem ao Brics perspectivas financeiras mais ambiciosas são a desaceleração do crescimento na China e o isolamento da Rússia provocado pela invasão da Ucrânia, acredita a imprensa francesa.