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EUA e Argentina reatam laços militares

Janie Hulse


Frank Mora, subsecretário adjunto de Defesa para Assuntos do Hemisfério Ocidental dos
EUA, esteve em Buenos Aires em 16 de agosto — a primeira visita oficial de uma autoridade de alto escalão do Pentágono à Argentina desde a apreensão de uma aeronave militar americana para inspeção em fevereiro de 2011.

O gesto de Mora assinala o desejo de Washington pela retomada de uma longa história de confiança mútua e cooperação de defesa.

“Para a Argentina, as relações militares com os Estados Unidos merecem importância, pois o país norte-americano é a maior potência mundial e por causa de sua inquestionável influência no hemisfério”, afirma o cientista político Rosendo Fraga, líder do grupo de reflexão Nueva Mayoria, de Buenos Aires. “Para Washington, faz sentido melhorar as relações com a Argentina dentro do contexto geral de sua política externa para a América do Sul, onde o país possui o segundo maior PIB, atrás do Brasil, e a terceira maior população, depois de [Brasil e] Colômbia.”

Argentina e Estados Unidos possuem um longo e bem-sucedido histórico de cooperação militar. Em 1963, o Pentágono criou o Programa de Assistência Militar (MAP) para o vizinho sul-americano. Como a maioria dos outros MAPs, previa o auxílio em máquinas e materiais para a produção militar, transferência direta de equipamentos militares e capacitação de pessoal. Tal cooperação se fortaleceu ao longo dos anos, com uma única interrupção durante a ditadura militar argentina no período 1976-83.

Relações militares em alta

Entre 1950 e 2000, a Argentina recebeu US$ 34 milhões (R$ 68 milhões) em auxílio militar americano e enviou mais de 5.200 estudantes de intercâmbio aos Estados Unidos para cursos no campo da defesa. Em 2009, a Argentina ocupou a quarta posição entre os países participantes de programas de treinamento nos EUA, com 688 estudantes, de acordo com o Just the Facts, um site que monitora o auxílio militar à América Latina. Mas uma reviravolta na política externa argentina acabou por estremecer essa cooperação.

“A relação bilateral entre os dois países na área militar tem múltiplas possibilidades, mas o problema é que o governo argentino parece não querer progredir no assunto”, diz Fraga.

Entretanto, a visita de Mora traz esperanças de que os laços serão reatados. O ministro da Defesa argentino, Arturo Puricelli, elogiou a política de defesa americana durante recente reunião no Centro de Estudos das Forças Armadas (CEFFAA), onde ele agradeceu a Mora por sua visita e “predisposição para trabalhar no fortalecimento das relações EUA-Argentina”. Puricelli explicou que a nova relação deve se desenvolver com base no “respeito mútuo” — e deve estar “alinhada” às políticas de defesa sul-americanas para garantir a meta de criar uma “zona de paz” regional.

Mora agradeceu a Puricelli pela oportunidade de “trocar e compartilhar ideias e políticas na área de defesa” e destacou o “profissionalismo, respeito ao Estado de direito e subordinação aos governos civis” das forças armadas regionais.

Ameaças do século XXI

Mora também citou as novas ameaças multidimensionais e transnacionais que o hemisfério enfrenta, como os ciberataques e desastres naturais, e conclamou a Argentina “a usar as forças armadas para apoiar decisões de autoridades civis para estabelecer relações de cooperação transparentes” entre governos.

A ausência da Argentina foi notada no recente exercício militar Panamax 2012, liderado pelos EUA, que visa impulsionar a cooperação no hemisfério. Sua decisão de se abster, entretanto, é difícil de ser interpretada como ideológica, pois o Equador — membro da aliança regional ALBA — pôs de lado as diferenças com Washington e participou dos exercícios. Assim como outros 13 países: Belize, Brasil, Chile, Colômbia, República Dominicana, El Salvador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai e Peru.

Durante a Guerra Fria, Argentina e Estados Unidos cooperaram na proteção mútua contra a ameaça comunista. No início dos anos 90, com o fim da Guerra Fria, as atenções se voltaram para o combate ao narcotráfico — e, após o atentado de 11 de setembro, o foco se tornou a erradicação do narcoterrorismo.

A Argentina foi vítima do terrorismo internacional em 1992, quando a Embaixada de Israel em Buenos Aires sofreu um atentado a bomba em que 29 pessoas morreram — e depois, em 1994, quando um caminhão-bomba destruiu o centro comunitário judaico, também na capital do país, matando 85 pessoas e ferindo mais de 300.

A Argentina busca a cooperação militar com uma série de parceiros não tradicionais. Algumas destas alianças — como a formada com a Venezuela e a China — provocam o questionamento de valores em comum com os Estados Unidos. Apesar dos recentes sinais dúbios e perdas de oportunidade, autoridades de ambos os países passaram a buscar um consenso de modo a evitar o descarte de anos de amizade e cooperação.

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