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EUA devem trocar ocupações militares por vigilância tecnológica

Os Estados Unidos abandonarão as grandes invasões de larga escala para priorizar operações irregulares, utilizando forças especiais, aviões não-tripulados e tecnologia de vigilância, na opinião da diretora do centro de estudos National Security Network, com sede em Washington.

Embora as medidas e os cortes anunciados na quinta-feira pelo presidente Barack Obama só comecem a ter efeito direto sobre o orçamento dentro de um mês, é possível traçar cenários para o que acontecerá nos próximos meses.

A pedido da BBC, a especialista em relações internacionais fez uma análise do provável futuro do Exército americano:

Após 11 de setembro de 2001, mais de 100 mil militares engrossaram as Forças Armadas dos EUA, especialmente o Exército e os fuzileiros navais, para ajudar o seu país a suportar as duas ocupações que se seguiram.

A teoria desenvolvida pelos chamados "especialistas em contra-insurgência" indicava que era necessário manter uma grande proporção de soldados em relação à população total ocupada. No entanto, os modestos resultados das operações no campo e o esgotamento dos recursos EUA puseram um fim à teoria.

A situação mudou tanto que Robert Gates, secretário de Defesa dos EUA até poucos meses atrás, disse aos estudantes que se graduaram em 2011 em West Point – a mais antiga Academia Militar do país – que qualquer futuro presidente que contemple o envio de jovens para ocupar uma nação no Oriente Médio "deve ter sua cabeça examinada".

A proposta do Pentágono reduz o número de tropas de terra para 520 mil soldados. Alguns até gostariam de ir mais longe e voltar para os níveis de 10 de setembro de 2001. Mas, a esses níveis, uma grande ocupação requereria a mobilização de forças como a Guarda Nacional e a reserva, e exigiria um maior nível de compromisso da sociedade.

A tendência de operações irregulares com forças especiais, aviões não-tripulados e tecnologia de vigilância é aumentar.

O presidente Obama enfatizou que os EUA devem continuar tendo poder suficiente para "operar com sucesso em ambientes cujo acesso nossos adversários buscam negar ".

Além disso, o relatório frisa que "os EUA atacarão diretamente os mais perigosos terroristas quando for necessário". Esses termos são um lembrete de que a violência não vai desaparecer quando forem concluídas as invasões em grande escala.

Um repórter especializado em tecnologias desenvolvidas pelo Pentágono, Spencer Ackerman, sugere que uma maior ênfase será colocada nos serviços de inteligência e em "ferramentas de espionagem", incluindo aviões não-tripulados, operações especiais e guerra cibernética.

A promessa feita por Obama em 2009, em Praga, de reduzir o papel das armas nucleares na estratégia dos EUA e avançar em direção à sua eliminação, vai começar a ser implementada na prática.

O cientista Stephen Young descreve o futuro das armas nucleares como "cauteloso, mas sugestivo." Os documentos sobre a estratégia militar dos EUA não descartam um arsenal nuclear, mas sugerem que haverá reduções. "É possível alcançar os nossos objetivos de dissuasão com menos armas nucleares", afirma o documento.

O que isso significa na prática? No curto prazo, decepção da direita americana que defende fortes investimentos em novas bombas nucleares e até mesmo a retomada dos testes. No longo prazo, muitos generais do Pentágono, especialmente aqueles que não estão no comando de submarinos, mísseis e bombardeiros nucleares, estão dispostos a considerar a redução do poderio nuclear.

A presença dos EUA na Europa e em outros lugares será menor e mais difusa, mas ainda visível. A revisão da estratégia menciona "uma oportunidade estratégica de equilibrar o investimento militar dos EUA na Europa". Ao mesmo tempo, os EUA anunciam mais soldados e instalações navais no Golfo Pérsico e o envio de 2,5 mil fuzileiros navais para a Austrália.

Estes contingentes – que por sua vez permitiriam a chegada e mobilização de contingentes muito maiores, se necessário – parecem ser a tendência do futuro.

A recente necessidade de porta-aviões no Mediterrâneo e bases aéreas da Organização do Atlântico Norte (Otan) no sul da Europa para a operação na Líbia mostram que o continente continua a ser uma importante base de apoio militar.

Em outras palavras, a mudança será gradual. O percentual de redução proposto atualmente é de 8%. A mudança que ocorreu no final da Guerra Fria, a partir do governo de Ronald Reagan, chegou a 25% e é semelhante às reduções na Europa nos últimos anos.

Em todo caso, como Obama lembrou em seu anúncio, os EUA continuarão a ser a potência militar número um do mundo, maior que a soma dos dez países que seguem a lista.

Heather Hurlburt é diretora-executiva do centro de estudos National Security Network, com sede em Washington. Entre 1995 e 2001, atuou no governo de Bill Clinton como redatora de discursos para o presidente e para dois secretários de Estado: Warren Christopher e Madeleine Albright.

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