Encarando restrições orçamentárias e desafios cada vez maiores na América Latina, o Pentágono está promovendo a reestruturação — e em alguns casos a reconstrução — de suas parcerias na região.
Frank Mora, subsecretário adjunto de Defesa para o Hemisfério Ocidental, expôs os últimos desdobramentos das parcerias militares entre os Estados Unidos e a América Latina em 24 de maio, durante um café da manhã com jornalistas da capital americana e especialistas da indústria da defesa.
“Desafios orçamentários nos forçaram a repriorizar nosso envolvimento e colaboração com nossos parceiros”, afirmou Mora, observando que a recente viagem do secretário de Defesa americano, Leon Panetta, a Colômbia, Brasil e Chile permitiu que seu chefe avaliasse a situação de importantes aliados militares dos Estados Unidos no hemisfério.
“Ele observou uma transformação, não só em termos de capacidade de nossos parceiros de oferecer segurança na região, como também sua contribuição para a segurança global”, declarou Mora.
Ao retornar para Washington, Panetta escreveu um editorial no jornal Miami Herald em que descreve algumas das novas iniciativas do Pentágono. A Colômbia, relatou, “passou de uma nação sob o cerco da guerrilha e das máfias do narcotráfico para um país que melhorou drasticamente sua segurança e está ajudando os países centro-americanos, entre outros, a enfrentar o tráfico de drogas ilícitas.”
Diálogo de cooperação de defesa Brasil-EUA
No Brasil, Panetta e líderes do setor brasileiros realizaram o primeiro Diálogo de Cooperação de Defesa entre os dois países.
“Esse diálogo reflete o surgimento do Brasil como potência global e importante contribuidor para a segurança internacional através de, entre outros esforços, sua liderança na Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti e na Força Tarefa Marítima da ONU no Líbano”, escreveu Panetta.
No Chile, Panetta destacou o envio prévio de forças de paz para o Haiti e seus esforços para construir a capacidade das forças de segurança na Bacia do Caribe.
Mora afirmou que contribuições impressionantes para a segurança regional e global vêm de todos os cantos da América Latina. Ele citou o papel da Argentina nas missões de paz da ONU, além dos esforços de Honduras para estabelecer e institucionalizar o currículo de sua força policial e, então, compartilhar essas melhores práticas com El Salvador e Guatemala.
O secretário também mencionou o “plano de ação” EUA-Colômbia assinado pelos presidentes Barack Obama e Juan Manuel Santos, que visa à coordenação das forças de segurança de ambos os países.
“Os colombianos têm muito a oferecer com sua própria experiência policial e militar”, destacou Mora. “Agora, eles se tornaram… grandes exportadores de segurança. É o que buscamos e temos trabalhado nisso. É consistente com a abordagem estratégica de procurar por novas parcerias eficazes de alto impacto, baixo custo e pouco espaço.”
EUA, México e Canadá se concentram em ajuda humanitária
Segundo Mora, autoridades mexicanas e canadenses sentaram com os colegas americanos há um ano para uma cúpula de defesa trilateral em Ottawa. Coordenada pelo então secretário de Defesa Robert Gates, ficou decidido que a ajuda humanitária era uma área em que os três países poderiam formar parcerias eficazes.
“O fato de termos realizado essa cúpula com o México é histórico”, declarou Mora. “E eles [os líderes de defesa dos três países] não só sentaram à mesa e conversaram, mas realizaram um trabalho tangível. Estamos desenvolvendo um estudo de ameaças para obter um entendimento comum dos desafios e oportunidades relativos à América do Norte.”
O subsecretário afirmou que o México, em particular, quer elaborar estratégias para ajudar os países a se recuperar de desastres nacionais.
“Eles têm a liderança no contexto trilateral ao agrupar uma série de reuniões que, espera-se, resultarão em um esquema sólido de como podemos colaborar, trabalhar juntos e compartilhar informações nessas áreas”, explicou Mora. “Não tem a ver só com EUA, México e Canadá. São as lições apreendidas no Haiti. Tem a ver com salvar vidas.”
Fortalecendo as instituições de defesa regionais
Mora também afirmou que Panetta está comprometido em reforçar as instituições de defesa regionais, como a Junta Interamericana de Defesa e a Conferência de Ministros da Defesa das Américas.
“Queremos garantir que essas instituições sejam modernizadas e trazidas ao século XXI para lidar com os desafios do século XXI”, pontuou. “Há inúmeros acordos sub-regionais e bilaterais, e instituições que estamos fortalecendo e expandindo.”
“Estamos estabelecendo, em uma base bilateral, um acordo de cooperação de defesa com Colômbia e Brasil, e negociando dois acordos de cooperação de defesa extras”, informou Mora, acrescentando que a defesa americana vê com bons olhos os esforços dos países latino-americanos — especialmente El Salvador — que estão ajudando no Afeganistão.
“El Salvador teve 11 revezamentos. Seus conselheiros e instrutores estão contribuindo para a segurança global no Afeganistão e gostariam de fazer mais, mas não podem”, lamentou.
“Não vou chegar aqui e dizer que todos na região compartilham o mesmo senso dos desafios, mas posso dizer que há mais países subindo a bordo e entendendo que um país, inclusive os Estados Unidos, não pode lidar com as questões de segurança de defesa sozinho”, assegurou Mora — insistindo que tudo tem a ver com dinheiro.
“Se não abordarmos a questão a partir de uma perspectiva multinacional e interagências, acabaremos falhando por causa do ambiente fiscal em que vivemos”, alertou.
Não à militarização
Mora acentuou enfaticamente que, ao contrário de alguns relatórios, o governo americano não tem interesse em militarizar as operações da polícia civil da América Latina — que, segundo ele, historicamente levou à corrupção e violação dos direitos humanos e do estado de direito.
“Já disse isso antes e direi de novo: não achamos uma boa ideia a participação de militares nas atividades do cumprimento da lei”, afirmou à plateia. “Não estamos pressionando os militares para isso. O presidente [da Colômbia] tomou a decisão soberana de ter militares de diferentes patentes em diferentes papéis para combater o crime transnacional.”
Nos últimos anos, as Forças Armadas americanas enviaram forças especiais à Colômbia para ajudar a treinar policiais no combate aos grupos narcoterroristas ilegais, como as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, ou FARC. Segundo Mora, o progresso colombiano no combate às drogas e à violência não significa que o Pentágono voltará sua atenção para outros lugares. Pelo menos não por enquanto.
“Absolutamente não é o caso”, garantiu, sugerindo que os Estados Unidos não só podem treinar forças policiais para que se tornem mais eficientes, como também para serem mais sensíveis a questões como violação dos direitos humanos e corrupção.
“O que podemos fazer como Estados Unidos, e particularmente como Departamento de Defesa, para apoiá-los e tentar mitigar os riscos associados à sua participação nessas atividades?”, perguntou. “Como podemos manter um alto nível de profissionalismo para que quando as instituições civis da polícia estiverem prontas para enfrentar [o problema], os militares possam retomar seu papel clássico tradicional?” Mora insistiu que, ao contrário das críticas recentes, os Estados Unidos não estão negligenciando a América Latina, declarando à plateia: “Não podemos dar as costas a eles e não faremos isso.”