Pressionado pelo caso Snowden, os Estados Unidos ameaçam China, Rússia e países da América Latina com represálias, caso concedam asilo ao analista de inteligência que revelou segredos da Agência de Segurança Nacional (NSA). Concretizar essas ameaças pode colocar em risco, porém, as relações dos EUA com sócios-chave como Pequim e Moscou.
Nesta segunda-feira, o secretário de Estado americano, John Kerry, considerou "muito decepcionante" e "profundamente inquietante" que Edward Snowden, acusado e procurado por espionagem, tenha conseguido viajar sem problemas de Hong Kong para Moscou. Em entrevista à imprensa em Nova Délhi, Kerry disse que o incidente pode ter "consequências" nas relações, já tensas, de seu país com Rússia e China.
O assessor da Casa Branca, Jay Carney, e o porta-voz do Departamento de Estado, Patrick Ventrell, foram incomumente duros com a China, acusando-a de ter "escolhido de forma deliberada soltar um fugitivo, apesar do pedido de captura" e do fato de que Snowden está com o passaporte vencido.
Rússia nega vínculo com Snowden e rebate acusações americanas
A Rússia negou nesta terça-feira qualquer vínculo com o ex-agente americano Edward Snowden, procurado por espionagem pela justiça dos Estados Unidos, e considerou "inaceitáveis" as acusações neste sentido de Washington.
Washington havia solicitado à Rússia a expulsão e entrega de Snowden, que revelou dados sobre o programa de espionagem da Agência Nacional de Segurança (NSA) americana, assim como da vigilância de ligações telefônicas e da internet nos Estados Unidos e no exterior.
Snowden foi acusado em seu país e pode ser condenado a 30 anos de prisão.
O americano, de 30 anos, que se refugiou em Hong Kong em 20 de maio, teria viajado no domingo a Moscou em um voo da companhia russa Aeroflot. No entanto, Snowden não foi visto desde que foi anunciada sua presença na Rússia, nem foi informado o local em que se encontraria.
"Não temos nenhuma relação com Snowden, nem temos nada a ver com seus problemas com a justiça dos Estados Unidos, nem com suas viagens pelo mundo", declarou o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov.
"Snowden não atravessou a fronteira russa e consideramos totalmente infundadas e inaceitáveis as tentativas de acusar a Rússia de ter violado as leis dos Estados Unidos, e quase de ter planejado um complô, tudo isto acompanhado de ameaças contra nós", completou em uma entrevista coletiva.
Lavrov não confirmou nem desmentiu se Snowden teria pousado em Moscou. Ele escolheu o itinerário sozinho. O governo soube como muitas pessoas, pela imprensa", disse o ministro.
Segundo fontes citadas pelos meios de comunicação russos, Snowden teria passado pelo menos a noite de domingo em um hotel localizado na zona de trânsito do aeroporto de Sheremetievo-Moscou. O acesso ao local não tem controle de passaportes ou exigência de visto russo.
As mesmas fontes afirmaram que o ex-agente deveria embarcar na segunda-feira em um voo de Moscou para Cuba e depois seguir para Venezuela e Equador, país ao qual pediu asilo e que está considerando o pedido. Mas aparentemente Snowden não embarcou no voo.
A agência russa Interfax destacou na segunda-feira que "seguramente" Snowden já havia abandonado a Rússia, mas fontes aeroportuárias afirmaram que ele permanecia na zona do aeroporto.
Duas semanas depois de uma cúpula informal na Califórnia entre os presidentes Barack Obama e Xi Jinping que apontava para um novo impulso às relações entre as duas principais potências mundiais, a Casa Branca lamentou "não poder contar com eles (os chineses) para que respeitem suas obrigações jurídicas em matéria de extradição".
Washington, que acredita que Snowden continua em Moscou, também pediu à Rússia que "estude todas as opções à sua disposição para expulsá-lo para os EUA".
Apesar dessas aparentes manifestações de raiva, o governo americano não tomará qualquer medida concreta contra China e Rússia, afirma o diretor de pesquisa da Brookings Institution Michael O'Hanlon.
O caso Snowden é "importante, mas não é uma das maiores prioridades diplomáticas, ou de segurança nacional" para os EUA, disse o especialista. "Há assuntos mais importantes" para as relações entre Washington e Pequim e Moscou, "como Síria, ou Coreia do Norte", acrescentou.
Com agências: Reuters/AFP