O novo "Great Game" na Ásia Central é também uma batalha para decidir se o século 21 será chinês ou norte-americano, diz Thomas Greven. "Os Estados Unidos não ficam indiferentes quando recursos naturais são encontrados no Afeganistão ou eu outros países da Ásia Central".
Além do mais, diz o cientista político, desagrada a Washington que Pequim tente reivindicar para si os recursos naturais do Afeganistão, sem tomar parte na luta contra o terrorismo no país. Há anos que o governo chinês empreende uma ofensiva "política de aquisições" no Afeganistão e em outros países centro-asiáticos. Por exemplo, para irritação de Washington, Pequim assegurou os direitos de exploração da maior mina de cobre na região leste do Afeganistão. Preço: três bilhões de dólares. Sobre as estradas construídas pelos Estados Unidos, em breve vão transitar caminhões lotados em direção à China.
Oficialmente, Pequim nega as ambições políticas de se tornar uma superpotência no Afeganistão e na região. No entanto, muitos observadores acreditam que a China tem o objetivo de ser a potência dominante, pelo menos na Ásia. Para Jürgen Stetten, chefe do departamento para a Ásia na Fundação Friedrich Ebert, a verdade está em "algum lugar entre uma coisa e outra".
Longe do conflito direto
Na opinião de Stetten, "mesmo que quisesse, a China não pode mais se dar ao luxo de não entrar em um jogo de geoestratégia. E isso vale especialmente para regiões como a Ásia Central e para o conflito no Afeganistão".
Até agora, a China tem evitado confronto direto com os Estados Unidos. A emergente potência mundial sente-se ameaçada pela presença dos cerca de cem mil soldados norte-americanos em suas vizinhanças. Os planos dos Estados Unidos de permanecerem engajados no Afeganistão depois de 2014 preocupam Pequim, diz Stetten.
"Está claro que a China não tem nenhum interesse em estar rodeada de bases militares norte-americanas." Mas a República Popular sabe que será muito difícil livrar-se dessa situação, pelo menos em médio prazo, explica o especialista. E por isso, acredita Stetten, o governo chinês concentra-se em uma estreita cooperação com o Paquistão – país localizado nas vizinhanças da China e também do Afeganistão.
Aliança estratégica
A proximidade do Paquistão significa muito para a China por vários motivos: primeiro, Pequim vê em Islamabad um forte aliado contra a Índia – seu maior rival na região. Em segundo lugar, a China acredita que com a ajuda do Paquistão possa fazer valer seus interesses no Afeganistão, especialmente depois da saída dos Estados Unidos.
O especialista prefere não fazer previsões sobre o resultado do novo "Great Game". Ainda continua em aberto quem sairá vitorioso desse jogo. Já para o Afeganistão, isso pode significar um desastre, diz Stetten. Por quê?
"Porque um retorno dos talibãs ou mesmo disputas entre os grandes rivais na região, seja China, Índia ou Estados Unidos, levariam o Afeganistão a um conflito permanente, do qual o país não conseguiria sair em um futuro próximo", responde Stetten.
Autor: Ratbil Shamel (ff)
Revisão: Carlos Albuquerque