A Espanha prendeu nesta sexta-feira oito cidadãos que recentemente retornaram depois de lutarem ao lado de rebeldes pró-russos na Ucrânia, na primeira detenção do tipo na União Europeia de estrangeiros envolvidos no conflito, informou o Ministério do Interior.
Segundo comunicado do ministério, as oito pessoas, detidas em uma operação de alcance nacional, são suspeitas de crimes que comprometem a paz e independência da Espanha e violam a neutralidade que o país mantém em relação à comunidade internacional.
"Os acusados viajaram para a Ucrânia durante 2014 e recentemente voltaram para a Espanha. Todos se juntaram a grupos separatistas pró-russos, que lutam pela independência das regiões de Lugansk e Donetsk", disse o ministério.
O comunicado afirma que, enquanto estiveram na Ucrânia, os oito trocaram informações e fotos, via mídias sociais, de seus treinamentos em como usar armas de combate e explosivos, enquanto vestiam uniformes paramilitares.
O grupo de espanhóis também expressou apoio à separação das regiões de Lugansk e Donetsk do governo central de Kiev. A União Europeia formalmente apoia a integridade territorial ucraniana e acusou a Rússia de apoiar os rebeldes militarmente. Moscou nega a acusação.
O conflito na Ucrânia já matou mais de 5.600 pessoas durante o último ano. Uma trégua frágil entrou em vigor na quinta-feira, mas três mortes entre as tropas de Kiev relatadas nesta sexta-feira diminuíram as esperanças de paz possa durar.
Mortes abalam trégua na Ucrânia; presidente diz temer ameaça russa
A Ucrânia informou nesta sexta-feira as primeiras mortes nos últimos três dias no leste do país, reduzindo a esperança de que o cessar-fogo seja mantido, e o presidente ucraniano, Petro Poroshenko, declarou que a Rússia representa uma "ameaça militar", mesmo que a trégua se consolide.
As tropas do governo que combatem os separatistas pró-Rússia no leste do país começaram a retirar na quinta-feira a artilharia pesada da linha de frente, em um sinal de que os militares da Ucrânia reconhecem que o um cessar-fogo em vigor desde 15 de fevereiro finalmente estava sendo posto em prática.
Mas, nesta sexta-feira, os militares anunciaram a morte de três soldados da Ucrânia nas últimas 24 horas, após dois dias inteiros sem baixas, que suscitaram esperanças sobre a trégua.
"Mesmo sob o cenário mais otimista … infelizmente a ameaça militar do leste iria persistir”, disse Poroshenko, referindo-se indiretamente à Rússia em um discurso televisionado proferido na Universidade Nacional de Defesa.
A Ucrânia e governos ocidentais acusam a Rússia de enviar tropas e armas em apoio aos separatistas do leste da Ucrânia, apesar de um acordo de paz acordado na capital bielo-russa, Minsk, em 12 de fevereiro. Moscou nega envolvimento.
A situação na zona de conflito permaneceu "relativamente calma" durante a noite, disse o porta-voz militar ucraniano Anatoly Stelmakh, embora citasse ataques isolados por rebeldes contra posições das tropas ucranianas.
A Ucrânia continuou a retirar as suas armas nesta sexta-feira, mas o Exército permanecerá em estado de alerta para o caso de uma nova ofensiva dos separatistas, declarou o porta-voz do Ministério da Defesa, Serhiy Galushko, em uma entrevista televisionada.
"Na linha de frente serão mantidas tropas e recursos suficientes para o caso de os terroristas e as forças que os apoiam violarem o cessar-fogo", disse ele.
Os rebeldes, que passaram a cumprir a trégua somente após tomarem o controle de uma cidade estratégica, impondo uma derrota humilhante para Kiev, estão recuando as armas pesadas desde terça-feira.
O governo ucraniano diz temer que os separatistas possam estar se reagrupando e se preparando para atacar Mariupol, no Mar de Azov, já que a captura dessa cidade portuária iria ajudar a abrir um corredor para a península da Crimea, região da Ucrânia que a Rússia invadiu e anexou no ano passado, após a derrubada do então presidente do país, aliado de Moscou.
O porta-voz militar Andriy Lysenko afirmou que foi constatada a saída de um comboio com sistemas de mísseis Grad e outros equipamentos de território sob controle dos rebeldes, em Donetsk, na direção de Mariupol.
Já o governo russo levantou dúvidas sobre o compromisso da Ucrânia com o cessar-fogo e indagou se os Estados Unidos e a União Europeia, que impuseram sanções econômicas sobre a Rússia, realmente querem que o acordo de paz de 12 de fevereiro seja bem-sucedido.