O escândalo que acaba de destruir a carreira de um dos generais norte-americanos mais admirados, David Petraeus, não é o primeiro envolvendo oficiais de alta patente por alguma falha, um sinal, para alguns, do abismo que separa essa hierarquia dos civis.
Antes da renúncia pela relação extraconjugal que o general de quatro estrelas e chefe da CIA, David Petraeus manteve, outros generais e oficiais de alta patente foram alvo de acusações por mau comportamento, inclusive agressões sexuais.
Esses casos foram descritos por analistas como produtos de um mundo de oficiais de alta patente que vivem em uma bolha em um país que, após 10 anos de guerra, desencoraja as críticas aos militares. Há pouco tempo, o ex-encarregado do Comando da África, o general William Ward, foi acusado por um relatório da Inspeção Geral do Departamento de Defesa de ter usado fundos públicos para levar uma vida suntuosa e ordenado seu pessoal a realizar tarefas em prol de sua vida privada.
O general de brigada Jeffrey Sinclair, adjunto do comandante da 82º Divisão Aerotransportada, foi deposto de suas funções este ano no Afeganistão após ter sido acusado de agressões sexuais e ameaças de morte contra uma mulher. Segundo o processo, quando foi interrogado sobre seu comportamento com as mulheres, Sinclair respondeu: "Sou general, faço o que quero".
Outro relatório do Departamento de Defesa acusa o tenente general Patrick O''Reilly de ter tiranizado seus subordinados na Agência Norte-americana de Defesa Antimíssil (MDA). As demais corporações das Forças Armadas também não escaparam. A Força Aérea teve que enfrentar várias acusações de agressão sexual contra recrutas femininas na base de treinamento de Lackland no Texas (sul). "Veneramos os militares sem pensar".
Em um fato raro, a Marinha norte-americana absolveu o contra-almirante Charles Gaouette do comando do porta-aviões Stennis, enquanto estava em missão no mar da Arábia. O almirante é um dos 22 oficiais de alta patente deposto de suas funções este ano por várias faltas, segundo o Navy Times.
O ex-secretário de Defesa, Robert Gates, que se aposentou em 2011, considerava que a corporação de oficiais generais representava uma porção muito grande do orçamento do Pentágono e queria reduzir a quantidade de generais e almirantes.
Ele também se preocupou com a brecha que parece separar os militares da sociedade civil norte-americana. Há muitas críticas também contra a prática comum entre os oficiais de infringir regras, com o pretexto de que eles arriscam sua vida enquanto os civis ficam em suas casas.
A confissão de infidelidade do diretor da CIA manchou a glória de um general considerado como o estrategista do sucesso norte-americano no Iraque. O escândalo respingou em seu sucessor no Afeganistão, John Allen, que está sendo investigado pela intensa correspondência que trocou com um dos protagonistas do escândalo Petraeus, Jill Kelley, para avaliar se seu conteúdo era "inapropriado". "Veneramos os generais sem pensar. Não é bom para os militares, nem para o país", comentou há pouco Tom Ricks, jornalista e autor do livro "The Generals" (Os generais), publicado recentemente.