Mais cedo, presidente havia tentado condicionar aprovação à incorporação da Turquia à União Europeia. Secretário-geral da aliança militar diz que líder se comprometeu com andamento “rápido” do processo.
(DW) Após o presidente turco Recep Tayyip Erdogan apresentar nesta segunda-feira (10/07) uma nova e inesperada condição para a entrada da Suécia na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), o secretário-geral da aliança militar, Jens Stoltenberg, declarou que a Turquia concordou em dar andamento ao pedido “o mais rápido possível”.
“O presidente Erdogan concordou em enviar o protocolo de adesão da Suécia ao Parlamento da Turquia o mais rápido possível e trabalhar pela sua aprovação”, afirmou Stoltenberg a jornalistas em Vilnius, capital da Lituânia, após se reunir com Erdogan e o primeiro-ministro sueco, Ulf Kristersson.
Mais cedo, falando a repórteres pouco antes de embarcar para a reunião de cúpula da Otan em Vilnius, a ser realizada nesta terça e quarta-feira, Erdogan havia condicionado sua luz verde à Suécia à retomada do processo de admissão da Turquia na União Europeia.
“Quase todos os membros da Otan são membros da UE. Eu agora me dirijo a esses países que têm feito a Turquia esperar por mais de 50 anos”, afirmou Erdogan a repórteres em Istambul. “Abram caminho para a adesão da Turquia à União Europeia. Nós pavimentaremos o caminho para a Suécia, assim como fizemos para a Finlândia, quando vocês pavimentarem o caminho para a Turquia.”
A Turquia é candidata à adesão à UE em um processo iniciado formalmente em 1999, mas as negociações estão na geladeira desde 2016 devido, principalmente, a disputas com um país do bloco, o Chipre, e retrocessos democráticos durante a presidência de Erdogan. Por esses motivos, uma ampliação da União Europeia em favor de Ancara é tida como improvável. A Turquia, porém, é tida como crucial para o gerenciamento da crise migratória – o país na intersecção entre o Oriente Médio e a Europa recebeu 3,6 milhões de refugiados sírios.
Declaração de Erdogan gerou incerteza
Foi a primeira vez que Erdogan associou a ambição de seu país de ingressar no bloco europeu com os esforços da Suécia para se tornar membro da Otan.
Os suecos são candidatos ao 32º assento da aliança militar, mas foram bloqueados pela Turquia sob pretextos diversos.
Algo parecido aconteceu durante o processo de adesão da Finlândia à Otan, concluído em abril. Antes neutros militarmente, os dois países nórdicos solicitaram a adesão à Otan no ano passado após a Rússia invadir a Ucrânia.
A Suécia argumenta que cumpriu sua parte do acordo ao atender às demandas de Ancara, o que incluiu a suspensão de embargos para fornecimento de armas à Turquia, leis antiterrorismo mais duras e medidas contra o PKK, o partido trabalhista curdo, que tem liderado levantes na Turquia desde os anos 1980.
Uma série de protestos anti-Turquia e anti-Islã na capital da Suécia chegou a lançar incertezas adicionais sobre o processo.
Além da Turquia, outro país de viés autoritário, a Hungria, ainda precisa autorizar a adesão da Suécia à Otan.
Cúpula discute apoio à Ucrânia, e país pressiona por entrada na Otan
Reunidos até a quarta-feira, líderes dos países-membros da Otan querem demonstrar coesão interna da aliança sobre o apoio militar à Ucrânia. Kiev, por sua vez, quer usar o encontro para pressionar por sua entrada na aliança – a Alemanha se opõe. Fontes de dentro do governo alemão afirmam que não há consenso claro sobre a questão entre os países-membros da aliança.
Enquanto países do leste europeu pressionam por compromissos claros com a Ucrânia nesse sentido, os Estados Unidos e a Alemanha têm resistido a oferecer mais do que uma esperança vaga de adesão em um momento futuro indefinido, em caso de vitória ucraniana.
Convidado para o encontro em Vilnius, o presidente ucraniano Volodimir Zelenski condicionou sua participação a uma discussão aberta sobre a adesão do país à Otan.
Ucrânia pode ter apoio similar a Isreael
A Otan acenou à Ucrânia com a decisão de simplificar o processo de candidatura. Kiev não precisará apresentar um “plano de ação” para reformar o setor militar, requisito que outros membros tiveram que cumprir.
Pelo Twitter, o ministro das relações exteriores da Ucrânia saudou o movimento e declarou que a concessão – que a Rússia avisou que teria sérias consequências para a segurança da Europa – encurtaria o caminho de Kiev até a entrada na Otan.
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, anunciou ainda um programa de cooperação militar entre a Ucrânia e a aliança, bem como a criação de um novo conselho Otan-Ucrânia.
Países como os EUA, Alemanha e Reino Unido querem ainda a criação de novas garantias de segurança. Segundo o presidente Biden, uma vez finda a guerra, os EUA estariam dispostos a oferecer à Ucrânia proteção similar à que dão a Israel – país ao qual repassam todos os anos 3,8 milhões de dólares, sendo que parte significativa desse dinheiro é destinada a gastos militares.
A Alemanha também deve confirmar o envio de novas armas à Ucrânia em volume “muito substancial”, segundo fontes do governo.