No passado, Israel sempre foi bem-sucedido no ataque a instalações nucleares que considerava hostis. Em 7 de junho de 1981, um avião de guerra israelense destruiu um reator nuclear no Iraque, e, em 6 de setembro de 2007, a força aérea israelense realizou uma missão semelhante no norte da Síria. Mas os tempos mudaram, e especialistas afirmam que as chances de Israel ser bem-sucedido numa operação desse tipo contra o Irã são mínimas.
"Há uma diferença enorme entre o número de locais com armas nucleares e plantas de processamento de material nuclear no Irã e o único reator nuclear da Síria acima do solo", disse à Deutsche Welle o tenente-general David Deptula, ex-chefe de inteligência da força aérea dos EUA. "Uma campanha militar envolveria um conjunto de ações muito complexo. A maioria do público não entende que uma campanha aérea não envolve apenas voar do ponto A para o ponto B, jogar uma bomba e voltar para casa."
Um dos principais problemas seria a distância. Mesmo que Israel escolhesse a rota mais direta até o Irã atravessando os espaços aéreos da Jordânia e do Iraque e aceitando as consequências diplomáticas implícitas a esse ato, as sete instalações nucleares que seriam prováveis alvos ainda estariam a 1,5 mil km de distância.
Isso significa que os próprios oito aviões de reabastecimento de Israel que dariam suporte aos 125 caças considerados necessários para uma operação desse tipo teriam de pousar para reabastecer.
Melhores defesas
Além disso, as defesas aéreas do Irã podem até ser ultrapassadas, mas, mesmo assim, poderiam representar um desafio para qualquer missão israelense.
"Acho que a questão mais desafiadora é simplesmente a extensão, que significa que eles não poderiam permanecer muito tempo em cima dos alvos no Irã", afirmou à Deutsche Welle o especialista Martin Chalmers, da consultoria militar Royal United Services Institute, em Londres. "Isso é muito complexo, e o tamanho limitado da força aérea israelense significa que a margem de erro não pode ser muito grande."
Há, porém quem considere que o problema seja outro. "Eu acho que a força aérea israelense tem os recursos de reabastecimento, por exemplo para levar aviões suficientes até os alvos", considera o especialista militar Shlomo Brom, do Instituto de Segurança Nacional da Universidade de Tel Aviv. "Esse não é o problema. O que não sei é se, quando alcançarem os alvos, poderão causar danos suficientes."
As duas plantas de enriquecimento de urânio do Irã são muito bem defendidas. Assim como a de Fordo, a instalação em Natanz é subterrânea. Ela foi construída no interior de uma montanha, há cerca de 70 m de profundidade. Nem mesmo a mais poderosa bomba israelense, a GBU-28, seria capaz de avançar a tal profundidade.
Intervenção americana improvável
Se, por um lado, os Estados Unidos insistem que Israel mostre moderação com relação ao Irã, por outro o presidente Barack Obama enfatizou estar mantendo todas as opções em aberto com relação a Teerã. Com a ajuda dos EUA, tudo muda: os porta-aviões americanos resolvem a questão da distância, e as bombas antibunker dos EUA são efetivas mesmo diante de 65 m de concreto.
No entanto, especialistas afirmam que o enorme poder militar americano poderia pesar contra uma decisão de Washington de lançar um ataque preventivo ao Irã, já que ele inevitavelmente levaria a um conflito maior.
"Os americanos estão mais propensos a avançar sobre as defesas aéreas iranianas, mas também sobre os recursos do Irã que poderiam ser utilizados numa retaliação, de modo que poderiam ficar tentados a tomar algumas das instalações navais iranianas", disse Chalmers. "É provável que um ataque americano alcançasse uma escala muito maior e haveria muito mais vítimas, incluindo civis. Seria difícil para o Irã armar uma retaliação, mesmo que limitada."
Mas, depois de ter retirado os soldados americanos do Iraque em 2010, é improvável que Obama envolva forças dos EUA em outro grande conflito no Oriente Médio nos próximos tempos.
Modelos alternativos
Alguns especialistas questionam a utilidade de um ataque preventivo, dizendo que isso apenas conteria, mas não acabaria com a atividade nuclear iraniana. "Tudo o que se faria nesses casos é postergar o problema", diz Deptula. "Não se chegaria à causa subjacente do problema, que é o atual regime iraniano."
Em vez disso, talvez a melhor opção para Washington fosse apoiar e auxiliar grupos rebeldes iranianos a derrubar o governo atual de maneira semelhante ao que ocorreu com a Aliança do Norte no Afeganistão, em 2001, e com as forças contra Kadafi na Líbia, em 2011.
"Cada situação é diferente, mas há importantes vertentes de oposição no Irã, assim como há algumas vertentes significativas fora do Irã que se opõem ao regime atual", afirma Deptula. "A mais óbvia é o Mujaheddin-e-Khalq (MEK), um grupo de oposição que está no Iraque, com cerca de 3,4 mil pessoas."
O MEK é um grupo paramilitar formado por muçulmanos sunitas, descontentes com o regime de domínio xiita em Teerã. O governo iraquiano, agora também predominantemente xiita, quer expulsar o grupo do Iraque. Os Estados Unidos listam o movimento oficialmente como uma organização terrorista.
"O MEK precisa ser removido dessa lista, e, então, poderia fornecer iranianos que apoiariam a remoção do regime atual", diz Deptula. "Ninguém discutirá tais detalhes em público, mas é esse tipo de modelo que representa uma possibilidade", avalia o especialista.
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