Paul Wood
"Sauditas e judeus", disse uma mulher ao deixar, tropeçando, as proximidades da Embaixada do Irã no sul de Beirute, logo após um ataque que matou 22 pessoas e deixou outras 140 feridas. Ela se referia aos grupos que costumam ser demonizados e culpados nessa região xiita da capital libanesa.
É bem mais provável, no entanto, que o atentado esteja ligado ao apoio iraniano ao regime sírio.
Logo que chegou à cena do ataque, perguntei ao parlamentar do Hezbollah Nawar al-Sahili se o ataque era uma forma de vingança ao que o Irã estava fazendo na Síria.
"É uma mensagem", ele disse. "A (única) solução na Síria é uma solução pacífica. Então, quem fez isso agora não quer uma solução política."
A autoria do ataque foi assumida por um grupo sunita libanês chamado Brigadas de Abdullah Azzam, que faz parte da Al-Qaeda e participa da luta na Síria.
Estejam ou não por trás do ataque, o fato é que os rebeldes sírios estão sofrendo na luta – e eles culpam o Irã, assim como seu aliado libanês, o Hezbollah.
Rotas para o Líbano
O regime de Bashar al-Assad tem cortado muitas das rotas usadas pelos rebeldes sírios para trazer suprimentos do Líbano. O resultado é o aumento no número de refugiados desesperançosos, que se arrastam na tentativa de cruzar a fronteira e chegar à cidade libanesa de Arsal.
A ajuda do Irã – e do Hezbollah – (ambos xiitas) poderia ser o fator decisivo para perseguir os rebeldes (em sua maioria sunitas) em seus últimos redutos ao longo da fronteira da Síria com o Líbano. Vários grupos rebeldes já pediram vingança.
A Síria vive a chamada guerra por procuração: os iranianos apoiando o regime de Assad (do seguimento alauita, um ramo do xiismo) e os sauditas (sunitas) apoiando muitos dos grupos rebeldes.
"Fiquem longe de qualquer instituição saudita no Líbano", escreveu um jornalista libanês sobre a expectativa dos próximos acontecimentos nessa espiral de violência.
Ruas tensas
Se mais violência for direcionada contra alvos sauditas, isso pode ser sinal de motivação política e não apenas uma disputa religiosa-sectária. Mas é claro que há um aspecto sectário em tudo isso. As divisões do conflito sírio acabam refletindo no outro lado da fronteira com o Líbano.
"Essas pessoas não vão nos combater cara a cara", disse um homem xiita com ferimentos da cabeça decorrentes do bombardeio. "Então eles usam suicidas. Deixe eles nos encararem. Estamos prontos para eles."
Esse tipo de discurso é o motivo pelo qual as ruas de Beirute estão bem mais tensas esta noite. Usando máscaras, jovens xiitas saem andando de moto, em grupos, como uma demonstração de força.
Na última vez que algo assim aconteceu, 27 pessoas foram mortas durante um atentado em um bairro xiita no sul de Beirute. Oito dias depois, veio a resposta: um ataque diante de uma mesquita sunita em Trípoli, que matou 42 pessoas.
Essa também não é a primeira vez que a guerra civil na Síria parece atravessar a fronteira e causar o caos no Líbano. Também não é a primeira vez que um atentado ocorre na área xiita no sul de Beirute.
Mas todo mundo no Líbano sabe que um ataque contra um alvo iraniano é algo diferente. Todos estão apenas esperando e assistindo ansiosamente para ver quais serão as consequências desse ataque.