O jornal espanhol El País destaca nesta segunda-feira (11/11) os resultados de uma pesquisa realizada no Brasil, pela Fundação Getúlio Vargas, sobre a credulidade do brasileiro quanto as suas instituições sociais. "De fato, os resultados sobre a fé e a confiança dos cidadãos em seis grandes instituições como partidos políticos, Congresso, polícia, a Igreja Católica, a mídia e os militares, você pode acreditar que os brasileiros se tornaram mais descrentes", informa o El País.
A matéria de Juan Arias apresenta os números do estudo, que apontam para uma mudança no comportamento dos brasileiros. Apenas 4,9% da população tem confiança nos partidos políticos, sendo que 95,1% não confiam em qualquer um deles; o Congresso tem 19,5% de votos de confiança e 81,5% de rejeição; a polícia ficou com 29,9% de confiança e 70,1% de rejeição.
Segundo a pesquisa, a Igreja Católica tem atualmente 49,7% de pessoas que colocam fé na instituição, mas 50,3% a rejeitam. "A Igreja Católica (…) que sempre esteve presente na política social do país, que goza de boa reputação em geral, começou a perder credibilidade. (…) mesmo após a visita do Papa Francisco, em julho passado, parecia ter significado uma injeção para os católicos, a ponto de muitos evangélicos confessarem que, seguindo o exemplo de generosidade e simplicidade do Papa de Roma, queriam voltar a ser católicos", diz o texto do El País.
Os meios de comunicação também foram avaliados na pesquisa. A televisão tem 29% dos votos de confiança contra 71% de rejeição. Os meios digitais aparecem com 62% de rejeição e 38% de confiança. As Forças Armadas, tem 65,4%, de confiança e 34,6% dos brasileiros a rejeitam. "As Forças Armadas (…) que uma vez apareceu como a instituição em que os brasileiros mais colocavam fé, caiu em seu agradecimento. (…) porém, que a instituição continua a ser melhor vista", comenta o veículo espanhol sobre o fenômeno social brasileiro.
O El País considera que essa falta de confiança é mais grave pelo fato das seis instituições analisadas estarem em declínio no quesito credibilidade. A reportagem destaca que o Exército Brasileiro perdeu em um ano 10% de sua credibilidade e a Igreja, 8%. Essas foram as duas instituições que no passado tinham o maior índice de credo da população. "Assim, temos que perguntar o que eles [brasileiros] acreditam e confiam, já que não acreditam mais nos políticos, na polícia, nem na igreja, nem nos meios de comunicação e cada vez menos até no Exército.
Eles [brasileiros] acreditam nos valores opostos aos que condenam em tais instituições, como o alto grau de corrupção dos políticos ou da polícia, ou a falta de aproximar as pessoas, por exemplo, da Igreja Católica. Por outro lado, os brasileiros ainda acreditam, especialmente os mais pobres, na instituição da família, em todas as maneiras que hoje parece cada vez menos tradicional", considera o texto do jornalista Juan Arias.
O jornalista espanhol afirma ainda que os brasileiros acreditam nos valores da solidariedade, nos espaços de liberdade para aproveitar a vida e amar cada vez mais e acreditam em suas próprias habilidades. "Assim, as pessoas, especialmente os jovens, procuram criar suas próprias pequenas empresas.
Eles gostam de todas as áreas de entretenimento, da música ao esporte, dança e 'churrasco' compartilhado com os amigos. Eles gostam de viver na companhia, partilhar as suas experiências. Eles acreditam no poder da comunicação, aumentando assim sua presença na mídia social. E acreditam em religião em todas as suas formas e credos. Os brasileiros são extremamente polireligiosos. Eles podem acreditar e adorar várias religiões ao mesmo tempo", comenta Arias.
Segundo as considerações feitas pelo jornalista, os brasileiros gostam de política, mas não do partido e preferem as ONGs, especialmente aquelas que trabalham em ambientes sociais esquecidos pelas instituições estatais. E compara os brasileiros aos italianos nas preferências eleitorais: "vota naqueles que sabem que são mais propensos a 'fazer favores'. (…) Havia, por exemplo, a afirmação irônica do famoso romancista João Ubaldo, que no Brasil é difícil de coalhar o movimento dos 'indignados', porque o sonho dos brasileiros é 'ter um político corrupto' na família para resolver todas as suas dores e problemas", diz Arias.