José Luiz Teixeira
As acusações contra o ministro dos Esportes, Orlando Silva, e seu partido, o PC do B, suscitam a discussão sobre o real papel dos partidos políticos brasileiros.
Das siglas mais nanicas às mais tradicionais, parece que em vez de uma ação ideológica, programática, seus objetivos são meramente comerciais.
Difícil para as agremiações escaparem da suspeita de que visem mais o corporativismo do que o bem comum, como apregoam.
Não escapam dessa dúvida nem mesmo legendas historicamente ideológicas, como a do ministro, que defendeu a luta armada contra a ditadura e organizou a Guerrilha do Araguaia, na década de 60.
Dão a impressão, nossos partidos, ou pelo menos seus dirigentes, de que ao disputar eleições, ganhar ou aderir aos ganhadores, pretendem apenas e tão somente locupletar-se.
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Em 2006, fiquei impressionado em ver a figura de Saddam Hussein, o outrora todo poderoso ditador do Iraque, com seus séquitos e exércitos, ser enforcado como um ladrão de cavalo dos velhos filmes de faroeste.
Minha sensação não foi diferente, quinta-feira passada, ao me deparar com as fotos divulgadas pela Internet do corpo ensanguentado e seminu do ex-ditador da Líbia, Muammar Kadafi.
Não sei o que me incomoda mais: o comportamento dos brasileiros que acabam resolvendo suas pendengas ao redor da tradicional pizza, ou dos iraquianos, sírios e líbios, entre outros, que protagonizam sangrentos conflitos na luta pelo poder.
Fico dividido entre a pizza e a espada.
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Pensando bem, é melhor o espírito cordial, acomodado e até mesmo alienado da grande maioria dos brasileiros, que demora a protestar contra tiranos e corruptos.
Imaginem o que podem estar sentindo agora aqueles que perderam entes jovens e queridos na luta armada, ao ver como se comporta, hoje, no poder, o PC do B de Orlando Silva.
José Luiz Teixeira é jornalista. Formado pela Faculdade Cásper Líbero, trabalhou em diversos órgãos de imprensa, entre os quais as rádios Gazeta, Tupi e BBC de Londres, e os jornais O Globo, Folha de S.Paulo e Folha da Tarde.