Os ministros das Relações Exteriores da Rússia e dos Estados Unidos deram início nesta quinta-feira a uma reunião crucial sobre o plano para colocar o arsenal de armas químicas da Síria sob controle internacional.
Apesar de ambos manifestarem apoio a uma negociação diplomática com o governo de Bashar Al-Assad, espera-se que o processo de negociação seja longo e tenso, na medida em que os dois países buscam chegar a um acordo sobre os termos do desarmamento.
Em uma coletiva de imprensa em Genebra, na Suíça, os dois representantes diplomáticos também manifestaram divergências sobre o grau de confiança no comprometimento da Síria com a proposta.
O ministro russo Sergei Lavrov disse que a solução da questão das armas químicas na Síria tornaria qualquer intervenção militar dos Estados Unidos desnecessária.
Ele afirmou que é preciso que os países se afastem da ideia de confronto militar e que negociações bem-sucedidas podem levar a uma reunião "Genebra 2".
O secretário de Estado americano John Kerry afirmou que somente a ameaça de uso da força estimulou a Síria a aceitar abrir mão de seu arsenal, mas que ele espera que a diplomacia possa evitar a ação militar.
Ele disse que as expectativas para a reunião eram altas – especialmente para a Rússia.
"Isso não é um jogo…tem que ser real, tem que ser abrangente, tem que ser verificável, tem que ser crível, tem que ser implementado com prazos específicos. E finalmente, é preciso que haja consequências caso (o acordo) não seja cumprido", disse Kerry.
"O presidente Obama deixou claro que se a diplomacia falhar, a força pode ser necessária."
A ONU confirmou nesta quinta-feira que recebeu documentos da Síria se comprometendo a aderir à Convenção sobre Armas Químicas, que proíbe a produção e o uso de tais armamentos.
De acordo com Farhan Haq, porta-voz das Nações Unidas, os documentos estão sendo traduzidos.
'Factível, mas difícil'
Horas antes, o presidente da Síria, Bashar al-Assad, havia confirmado em entrevista a uma TV russa nesta quinta-feira que entregará as armas químicas do país ao controle internacional.
Assad disse à TV Rossiya 24 que ele entregaria as armas um mês após assinar os documentos.
"A Síria está colocando suas armas químicas sob controle internacional por causa da Rússia. As ameaças dos Estados Unidos não influenciaram nossa decisão", disse.
O presidente sírio disse que irá apresentar informações sobre seu arsenal químico um mês após adotar a convenção, o que seria uma "prática normal". Mas o uso da expressão pareceu irritar Kerry.
"Eu vi relatos de que o regime sírio sugeriu que, como parte do processo normal, eles devem ter 30 dias para apresentar datos sobre seu arsenal de armas químicas. Nós acredtamento que não há nada de normal acerca deste processo no momento, por causa da forma como o regime se comportou, devido não só à existência dessas armas, mas por porque elas foram usadas", disse.
Lavrov pareceu repreender Kerry pelo comentário político, dizendo: "A diplomacia gosta de silêncio".
O correspondente da BBC em Genebra, James Robbins, disse que essas negociações são críticas porque pretendem por fim a dois anos e meio de impasse a respeito da Síria.
Robbins diz que as equipes americana e russa são excepcionalmente grandes – cheias de especialistas em armas, assim como diplomatas.
A ideia, segundo ele, é que negociações mais detalhadas sobre os aspectos práticos do desarmamento químico acontecerão em paralelo com as duras trocas políticas entre Kerry e Lavrov.
Autoridades americanas disseram que a proposta russa é "factível, mas difícil".
Processo de desarmamento
A adesão da Síria à Convenção sobre Armas Químicas é a primeira das três fases previstas do plano apresentado pela Rússia na segunda-feira, em uma tentativa de evitar um ataque dos Estados Unidos contra o território sírio.
A proposta determina ainda que que a Síria revele onde suas armas químicas estão guardadas e divulgue detalhes de seu programa, além de prever que especialistas decidam sobre as medidas específicas a serem tomadas em relação a essas armas.
Se as negociações em Genebra forem bem-sucedidas, os EUA esperam que o processo de desarmamento seja acertado em uma resolução no Conselho de Segurança da ONU.
No entanto, a Rússia considera inaceitável qualquer resolução prevendo o uso da força militar ou responsabilizando o governo de Damasco pelos ataques químicos.
Moscou, apoiada pela China, já rejeitou anteriormente projetos de resoluções condenando o governo de Assad.
De acordo com a ONU, mais de 100 mil pessoas já foram mortas na Síria desde o início dos conflitos, em 2011.