Ocidente vê falta de apoio das potências asiáticas no Conselho de Segurança como causa da renúncia de enviado especial. Já a Rússia culpa os países ocidentais. ONU quer manter esforços de mediação e busca sucessor.
Potências ocidentais trocam acusações com a Rússia e a China depois de o diplomata Kofi Annan ter deixado o posto de enviado especial da ONU e da Liga Árabe para a Síria, nesta quinta-feira (02/08). Washington e europeus atribuíram a renúncia ao bloqueio que os dois países asiáticos promovem no Conselho de Segurança da ONU. O governo em Moscou rebateu, culpando o Ocidente. Já a China pediu uma solução política para o conflito na Síria.
Ao lamentar a renúncia do enviado especial da ONU e da Liga Árabe, Kofi Annan, a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, criticou indiretamente Rússia e China, que vetaram repetidas vezes resoluções contra Síria. "Infelizmente, o Conselho de Segurança da ONU foi impedido de dar a ele [Annan] os meios necessários para que continue seu trabalho", declarou Clinton, se referindo a Annan e elogiando seu empenho "incansável" na busca de uma solução para o conflito na Síria.
A chefe da diplomacia da UE, Catherine Ashton, ressaltou que Annan investiu uma "quantidade enorme de tempo e engajamento pessoal em sua tarefa difícil e perigosa". Já o ministro alemão do Exterior, Guido Westerwelle, classificou como "decepcionante" que o plano de paz de Annan ainda não tenha sido implementado. "É claro que Kofi Annan se demitiu do cargo também por causa do bloqueio do Conselho de Segurança, pelo qual Rússia e China são responsáveis", acusou.
O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, disse querer prosseguir os esforços da ONU na mediação do conflito na Síria, mesmo após a renúncia do enviado especial. "A diplomacia só pode ter êxito se todas as partes se declararem expressamente dispostas ao diálogo e se a comunidade internacional estiver firmemente unida em seu apoio", disse Ban na noite de quinta-feira em Nova York, ressaltando que a busca por um sucessor de Annan já está em andamento. Ban elogiou os esforços "determinados e corajosos" de Annan como enviado especial.
Annan: palavras afiadas contra regime sírio
Frustrado com a escalada da violência na Síria, Annan declarou que a partir do fim de agosto não estará mais disponível para continuar exercendo o cargo de enviado especial, menos de meio ano depois de assumir o posto. Numa conferência de imprensa convocada às pressas em Genebra, Annan disse que tinha aceitado a tarefa, classificada por alguns como uma "missão impossível", por querer ajudar a comunidade internacional a alcançar uma solução pacífica para a crise, sob liderança do Conselho de Segurança da ONU. No entanto, acrescentou que não pode continuar se o Conselho de Segurança não o apoia completamente.
Annan escolheu palavras afiadas para criticar o regime sírio, afirmando que o derramamento de sangue prossegue sobretudo devido à "teimosia" do governo em Damasco e à sua recusa em implementar seu plano de seis pontos. "Claro que o presidente Bashar al-Assad tem que renunciar", disse Annan, acrescentando que a violência na Síria também aumentou devido ao aumento das ações militares da oposição.
Rússia ataca o Ocidente
O governo da China lamentou a notícia e pediu uma solução política para o conflito sírio. "Entendemos as dificuldades que enfrentou o senhor Annan em seu trabalho de negociação e respeitamos sua decisão", disse o porta-voz do Ministério do Exterior chinês, Hong Lei. "China está aberta a toda proposta que possa levar a resolver o conflito de maneira política, e a China apoia as Nações Unidas para que continue tendo um importante papel", acrescentou.
Já a Rússia e o Irã acusaram o Ocidente de ser responsável pela renúncia de Annan. A Rússia colocou a culpa, de maneira indireta, nos que sustentam as forças de oposição na Síria. Annan "é um mediador internacional sincero, mas há aqueles que querem que ele saia para terem um campo livre para o uso da força", escreveu o vice-ministro de Exterior russo, Guennadi Gatilov, no serviço de notícias curtas Twitter.
O Irã também lamentou a decisão de Annan e acusou o Ocidente de haver contribuído para o fracasso de sua missão. "Sempre que seu plano de paz mostrava avanços, o Ocidente aumentava o envio de armas à oposição", declarou o porta-voz do Ministério do Exterior, Ramin Mehmanparast, segundo a agência estatal Irna.
MD/dpa/dapd
Revisão: Alexandre Schossler