O mediador da ONU e da Liga Árabe para a Síria, Kofi Annan, reiterou nesta quarta-feira em Teerã que espera uma melhora da situação nesse país nas próximas horas e que o Irã, principal aliado do regime de Damasco na região, seja "parte da solução do conflito".
Em entrevista coletiva junto com o ministro das Relações Exteriores iraniano, Ali Akbar Salehi, Annan indicou que o governo de Damasco lhe prometeu acatar o cessar-fogo previsto a partir das 6h de quinta-feira, "se todos o respeitarem".
Segundo Annan, o Irã está de acordo em "buscar uma saída pacífica" para a situação de violência na Síria, pois, ressaltou, "uma maior militarização do conflito seria desastrosa". "A situação geopolítica da Síria está de uma forma que qualquer erro pode ter consequências inimagináveis", avaliou Annan.
Salehi, por sua vez, manifestou o apoio iraniano à mediação de Annan e a seu plano de paz e pediu "tempo" para que o presidente da Síria, Bashar al-Assad, o principal aliado árabe de Teerã, aplique as reformas que prometeu.
Segundo o responsável da diplomacia iraniana, Teerã considera que os sírios devem ter direitos como a "liberdade de partidos políticos, a liberdade de escolha e uma Constituição que abranja os desejos do país".
"É preciso dar ao Governo sírio a oportunidade (de realizar essas mudanças)", disse Salehi, que também demonstrou a firme oposição do Irã à "interferência estrangeira nos assuntos de outros países", em referência a uma possível ingerência dos EUA e de seus aliados.
Damasco de Assad desafia oposição, o Dominó Árabe (ou Primavera Árabe) e Ocidente
Após derrubar os governos de Tunísia e Egito e de sobreviver a uma guerra na Líbia, a Primavera Árabe vive na Síria um de seus episódios mais complexos. Foi em meados do primeiro semestre de 2011 que sírios começaram a sair às ruas para pedir reformas políticas e mesmo a renúncia do presidente Bashar al-Assad, mas, aos poucos, os protestos começaram a ser desafiados por uma repressão crescente que coloca em xeque tanto o governo de Damasco como a própria situação da oposição da Síria.
A partir junho de 2011, a situação síria, mais sinuosa e fechada que as de Tunísia e Egito, começou a ficar exposta. Crise de refugiados na Turquia e ataques às embaixadas dos EUA e França em Damasco expandiram a repercussão e o tom das críticas do Ocidente. Em agosto a situação mudou de perspectiva e, após a Turquia tomar posição, os vizinhos romperam o silêncio. A Liga Árabe, principal representação das nações árabes, manifestou-se sobre a crise e posteriormente decidiu pela suspensão da Síria do grupo, aumentando ainda mais a pressão ocidental, ancorada pela ONU.
Mas Damasco resiste. Observadores árabes foram enviados ao país para investigar o massacre de opositores, sem surtir grandes efeitos. No início de fevereiro de 2012, quando completavam-se 30 anos do massacre de Hama, as forças de Assad iniciaram uma investida contra Homs, reduto da oposição. Pouco depois, a ONU preparou um plano que negociava a saída pacífica de Assad, mas Rússia e China vetaram a resolução, frustrando qualquer chance de intervenção, que já era complicada. Uma ONG ligada à oposição estima que pelo menos 7,6 mil pessoas já tenham morrido, número similar ao calculado pela ONU.