JAMIL CHADE, LISANDRA PARAGUASSU
A presidente Dilma Rousseff mandou ontem um alerta duro para o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, David Cameron: qualquer intervenção militar, seja na Síria ou no Irã, fará o preço do petróleo explodir e prolongará a crise econômica mundial. O recado foi dado em uma reunião entre os dois chefes de governo em Londres. Segundo relato de um ministro que a acompanhava, Dilma disse que o governo Assad perdeu legitimidade.
Dilma reiterou a posição do Itamaraty e rejeitou qualquer ideia de militarização do conflito sírio ou intervenção que possa repetir os cenários de Iraque e de Afeganistão. Como o Estado antecipou na terça-feira, Cameron usou o encontro com Dilma para pedir o apoio do Brasil em sua campanha para isolar cada vez mais o regime de Bashar Assad na Síria e para pressionar o Irã.
Na avaliação dos britânicos, chegou o momento de o Conselho de Segurança da ONU aprovar uma resolução que determine sanções contra Assad. Londres vem liderando a campanha e assumindo o papel que tradicionalmente cabe aos EUA.
Em plena campanha presidencial, o presidente americano, Barack Obama, tem evitado levantar debates sobre eventuais intervenções militares. No entanto, China e Rússia rejeitam qualquer iniciativa nesse sentido e vem minando a ação dos britânicos. Ontem, Dilma foi clara. A situação da Síria é "preocupante", o Brasil condena a violência e admite que o país vive uma guerra civil, mas nada disso significa que a comunidade internacional deva adotar a mesma estratégia que aplicou no Iraque e no Afeganistão.
"A militarização não funciona", disse Antonio Patriota, chanceler brasileiro após o encontro. Ele admitiu, no entanto, que o Brasil está "preocupado" com o fato de o Conselho de Segurança não chegar a um consenso sobre como resolver a questão da Síria.
Na reunião, Cameron citou a situação do Irã. Uma vez mais, porém, Dilma rejeitou qualquer intervenção, alertando que o risco de um conflito regional teria um profundo impacto sobre os preços do petróleo e agravaria a crise econômica global.
Diplomacia.
De acordo com Dilma, uma intervenção militar internacional na Síria ou no Irã prejudicaria os próprios esforços dos europeus para resgatar suas economias. A presidente defende o diálogo com Teerã e insiste que seu governo não apoiará jamais o uso de energia nuclear para fins militares.
A posição do Brasil, segundo Dilma, reflete a tentativa do País de mediar uma negociação com o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, sobre o enriquecimento de urânio, feita em parceria com a Turquia, em 2010. Ela insiste que o diálogo é a única maneira de lidar com a situação do Irã