A convite do Partido Republicano americano, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, tem programado para a próxima terça-feira (03/03) um discurso no Congresso em Washington.
Sua intenção é atacar uma iniciativa central do governo Barack Obama na política externa: o acordo nuclear entre Irã e Estados Unidos, atualmente nas últimas fases de negociação. O pacto prevê uma retração das atividades nucleares iranianas por um período de pelo menos dez anos, seguido, então, por uma gradual retirada das restrições.
Para o chefe de governo israelense, tal equivale a uma permissão tácita para os aiatolás construírem uma bomba atômica, assim que o acordo expirar, em cerca de uma década. Antes de partir para Washington, ele declarou: "Eu respeito a Casa Branca e o presidente dos EUA, mas num assunto sério, é meu dever fazer tudo pela segurança de Israel."
Na prática, porém, diante da perspectiva de um Irã nuclearmente armado, Netanyahu não hesitou em atacar Obama, abalando assim as já frágeis relações israelo-americanas. O secretário de Estado John Kerry colocou abertamente em dúvida o julgamento de Netanyahu sobre a questão.
Novo estágio de tensão
Fontes diplomáticas acreditam que Obama seria capaz de implementar grande parte do acordo nuclear sem a ajuda do Congresso. Por outro lado, é possível que alguns deputados criem dificuldades, com o fim de exibir suas credenciais pró-Israel, antecipando as eleições gerais de 2016. Para isso, eles poderiam se recusar a suspender determinadas sanções contra Teerã, ou até introduzir novas, o que ameaçaria gerar uma desistência iraniana do projeto.
Desde que Netanyahu e Obama assumiram seus postos, em 2009, impera a tensão diplomática entre as duas potências, repetindo-se os confrontos sobre temas sensíveis, como a política de assentamento israelense nos territórios palestinos, ou o estagnado processo de paz no Oriente Médio.
No entanto, o fato de o premiê se apresentar no Congresso – adentrando, por assim dizer, o "quintal dos fundos" do chefe de Estado democrata –, ainda mais a convite dos adversários republicanos, tem todo o potencial para inaugurar um novo grau de estranhamento entre os dois governos.
Parcialidade perigosa
Por mais que Netanyahu alegue ter "a intenção única de expressar as graves apreensões de Israel", a Casa Branca rebateu com energia a manobra que interpreta como uma ingerência na política interna americana. Obama se recusou a receber Netanyahu durante a visita dele à capital americana, enquanto seu vice-presidente e secretário de Estado estarão mesmo no exterior, na ocasião.
Numa entrevista televisiva, a conselheira de Segurança Nacional, Susan Rice, acusou o político conservador israelense de, com esse passo, injetar um grau de parcialidade "destrutiva para o tecido do relacionamento bilateral", o qual deveria estar acima da política.
Vários democratas moderados prometeram se ausentar do Congresso, na próxima terça-feira, falando de um "grave insulto" a Obama. Um deles, Tim Kaine, classificou o discurso de Benjamin Netanyahu como "altamente inapropriado", diante da proximidade das eleições de 17 de março em Israel.
Outros deputados do partido de Obama propuseram um encontro particular com o premiê israelense, durante sua estada em Washington. Ele declinou, afirmando não querer, justamente, "piorar a falsa impressão de parcialidade" em torno de sua visita.