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Dilma e Chávez

O governo brasileiro se mostra disposto a continuar cooperando com a Venezuela e até a ampliar os programas conjuntos, mas a presidente Dilma Rousseff parece dar um novo sentido à parceria entre Brasília e Caracas, com menor ênfase à ideologia e maior atenção aos interesses concretos de cada país. A presidente Dilma Rousseff aproveitou a visita do colega venezuelano, Hugo Chávez, para lembrá-lo de alguns compromissos pendentes. A estatal PDVSA deve cerca de US$ 1,4 bilhão à Petrobrás por atividades em campos petrolíferos na Venezuela.

Afora isso, a empresa venezuelana jamais pagou um centavo para a construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, embora devesse cobrir 40% dos custos. Além disso, o comunicado conjunto menciona "a importância de garantir a continuidade dos projetos em execução" na Venezuela – hidrelétricas, estradas, trechos do metrô de Caracas e indústria processadora de alimentos, entre outros. Mais de uma vez empresários brasileiros queixaram-se de atrasos nos pagamentos. É difícil imaginar um motivo diferente e igualmente importante para a referência à garantia de continuidade desses investimentos.

As autoridades brasileiras foram discretas em relação a quase todos esses temas. De modo geral, foram discutidos em reuniões fechadas, mas a imprensa teve acesso, informalmente, às informações necessárias para avaliar o teor das conversas. Os brasileiros deram ênfase à segurança para a realização de negócios na Venezuela.

Novos acordos e memorandos foram firmados para a cooperação bilateral. O BNDES vai emprestar US$ 637 milhões para a PDVSA construir um estaleiro em Sucre, com participação de empresas brasileiras. Além disso, a Braskem comprará óleo e derivados da estatal venezuelana e contribuirá com US$ 4 bilhões para um fundo destinado a financiar obras de infraestrutura na Venezuela. A maior parte dos outros compromissos assinados durante a visita refere-se à cooperação técnica para o desenvolvimento da agricultura, para o planejamento territorial e para um programa de construção de 2 milhões de moradias.

O Brasil tem uma boa experiência em pesquisa agropecuária, em combate à aftosa e em modernização do agronegócio. O governo está em condições de oferecer uma cooperação valiosa nessas áreas. Mas essa colaboração dificilmente produzirá algum resultado positivo, se o regime do presidente Hugo Chávez se mantiver no rumo seguido até aqui. O governo bolivariano simplesmente destruiu boa parte da capacidade produtiva das fazendas venezuelanas.

Mas não se contentou com os danos causados à produção. Para conter a alta de preços, interferiu desastrosamente no comércio de alimentos, estatizando parte do sistema distribuidor. A ação catastrófica do governo transformou o país num grande importador de comida. Em seguida, promoveu um gigantesco desperdício, armazenando mal os produtos importados e administrando o abastecimento com grande incompetência.

Nenhuma ajuda técnica poderá mudar esse quadro, se o presidente Hugo Chávez insistir em sua política de combate à agropecuária produtiva. Se a presidente Dilma Rousseff se abstiver de aplaudir os desmandos cometidos pelo colega venezuelano, mostrará mais juízo do que o seu antecessor.

Seria igualmente sensato renunciar a novos esforços diplomáticos a favor da inclusão da Venezuela no Mercosul. Essa inclusão só depende agora dos parlamentares paraguaios, porque o apoio brasileiro, argentino e uruguaio já foi conseguido. O comunicado conjunto menciona a "perspectiva de pronta conclusão do processo", mas a atitude mais prudente é deixar a solução para muito mais tarde. A presença do presidente Hug0 Chávez na mesa das deliberações será mais um problema para o já emperrado bloco regional. A presidente Dilma Rousseff mostrou-se mais cautelosa que seu antecessor ao se manter distante da campanha eleitoral peruana. Acertará mais uma vez se mantiver essa prudência em toda a ação diplomática na América Latina.

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