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Despejo de águas de Fukushima abala relação diplomática entre Japão e China

A Embaixada do Japão na China disse na terça-feira (29) estar “extremamente preocupada” com uma onda de ataques em frente aos seus escritórios e ameaças por telefone desde o início da controversa operação de despejo das águas da central nuclear de Fukushima no Oceano Pacífico, na última quinta-feira (24). O lançamento foi autorizado pela Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA), mas desagradou Pequim.

RFI

Apesar das preocupações prévias, declaradas por pescadores e da forte oposição da China, que imediatamente reforçou suas sanções comerciais direcionadas a Tóquio, o Japão manteve os despejos. O caso também gerou grande comoção popular, levando à prisão, na semana passada, de manifestantes que protestavam em frente à embaixada japonesa de Seul. Na capital japonesa, os protestos foram diante da Tepco, empresa operadora da central de Fukushima. 

“É claro que lamentamos e estamos extremamente preocupados. Apelamos ao governo chinês, conforme o direito internacional, para fornecer segurança na embaixada e consulados na China, incluindo algumas instalações relacionadas com o Japão e aos cidadãos japoneses”, disse em comunicado o porta-voz da embaixada.

Os atos contra japoneses atribuídos à China desde o início do despejo no mar das águas de Fukushima são “extremamente lamentáveis e preocupantes”, declarou ainda o ministro dos negócios estrangeiros japonês, Yoshimasa Hayashi, confirmando que civis atiraram tijolos contra a embaixada japonesa em Pequim.

Ele pediu ao governo chinês para “tomar imediatamente as medidas adequadas, apelando aos seus cidadãos para agirem com calma para evitar que a situação se agrave”. Tóquio convocou o embaixador chinês no Japão na segunda-feira (28) para protestar contra a onda de ataques da China contra empresas japonesas.

Sanções e revolta

Pequim suspendeu todas as importações de frutos do mar do Japão desde a semana passada, em resposta ao início do despejo da água usada para resfriar os reatores nucleares na usina danificada de Fukushima Daiichi.

Em entrevista à RFI, Karoline Postel-Vinay, pesquisadora do Centro de Pesquisa Internacional (CERI) da Sciences Po, especialista em Leste Asiático e autora da obra “A Revolução Silenciosa do Japão”, disse que apesar da validação pela IAEA a favor do lançamento das águas no mar, “pescadores japoneses contestaram [a decisão cientifica], há cientistas dos EUA que também contestam, mas claramente se tornou uma questão de domínio político”, acrescentando que a tensão se tornou uma “reviravolta geopolítica na China”.

A especialista contextualiza as razões a partir das tensões pré-existentes entre EUA e China e o fato de o Japão ser aliado dos EUA. “A China tenta intimidar, desestabilizar o Japão. E também não podemos nos esquecer que num país autoritário como a China, isso pode ser um recurso de política interna para os chineses”, o que colocaria a opinião pública em consenso contra o Japão, algo positivo para os políticos chineses, segundo a pesquisadora.

Essa tensão sino-japonesa perante o caso das águas tratadas de Fukushima pode ser considerada como uma estratégia de massa que rege de certa maneira o cenário internacional. Além disso, Postel-Vinay defende que há também pontos políticos internos, já que a China “se encontra numa situação econômica degradada”, o tema direciona os holofotes de tal maneira que faz a “nação chinesa pode se reaproximar”. E por isso seria do interesse chinês “alimentar esta tensão”.

“Com um regime autoritário como do Xi Jinping atualmente, há decisões que não são, de maneira nenhuma, racionais no plano econômico (…) É o que acontece na China, não somente em relação ao Japão, mas em outros setores de decisão que não são necessariamente para beneficiar a população, na verdade”, sintetizou.

Ela considera que as tensões, principalmente relacionadas aos ataques anti japoneses atuais, incluindo casos de xenofobia e o ataque com tijolos na embaixada, “podem sair um pouco dos trilhos, mas penso que haverá um momento em que cada parte vai tomar consciência de que é muito perigoso [prosseguir com as tensões]”, concluiu.

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