(RFI) Os inspetores da AIEA constataram o desaparecimento de dez contêineres que continham urânio natural concentrado, também conhecido como yellow cake. A AIEA não informou detalhes sobre o caso, mas notificou os países-membros da agência sobre o misterioso desaparecimento, explica o jornal Le Monde.
A Líbia, prossegue o veículo francês, abandonou seu programa de desenvolvimento de armas nucleares em 2003, dois anos depois da queda do ex-ditador Muammar Kadafi, iniciador do projeto. Com a queda e a morte de Kadafi, após uma intervenção militar liderada pela França e pelo Reino Unido, com o apoio dos Estados Unidos, o país entrou em uma profunda crise política.
Atualmente, a Líbia é um país dividido ao meio, governado por dois poderes rivais, a leste e a oeste do território, com áreas ocupadas por um mosaico de milícias e mercenários que atuam sob ingerência externa da Rússia e da Turquia, entre outras nações. O governo na capital Trípoli é reconhecido pela ONU, enquanto o leste do país é governado pelo marechal Khalifa Haftar.
O jornal Le Figaro informa que a AIEA vai investigar as razões do desaparecimento das 2,5 toneladas de urânio e tentar localizar os contêineres. Segundo a agência, a perda desse material acarreta sobretudo um risco de contaminação radioativa, bem como para a segurança nuclear, embora especialistas afirmem que a quantidade desaparecida não é suficiente para a fabricação de uma bomba suja.
Chefe da ONU denuncia interferência estrangeira e violação ao embargo de armas na Líbia
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, denunciou nesta quarta-feira (8) que o conflito na Líbia atingiu uma interferência estrangeira “sem precedentes”, com a entrega de equipamentos sofisticados e mercenários envolvidos nos combates.
Guterres, durante uma videoconferência do Conselho de Segurança, expressou preocupação com o reagrupamento das forças militares na cidade de Sirte, a meio caminho entre Trípoli e Benghazi.
“O conflito entrou em uma nova fase, com a interferência estrangeira atingindo níveis sem precedentes, incluindo a entrega de equipamentos sofisticados e o número de mercenários envolvidos na luta”, disse.
As forças do governo de União Nacional (GNA), com sede em Trípoli e reconhecido pela ONU, “com apoio externo significativo continuam seu avanço para o leste e agora estão a 25 km a oeste de Sirte”, afirmou.
Essas forças já tentaram tomar a cidade por duas vezes no passado.
Com o apoio da Turquia, o GNA se opõe às forças do marechal Khalifa Haftar, que controla grandes áreas no leste da Líbia, apoiado pelo Egito e pelos Emirados Árabes Unidos.
“Estamos muito preocupados com a alarmante concentração militar em torno da cidade e com o alto nível de interferência externa direta no conflito, violando o embargo de armas da ONU, as resoluções do Conselho de Segurança e os compromissos dos Estados membros assumidos em Berlim” em janeiro, insistiu Guterres, sem apontar para nenhum país em particular.
A presença de mercenários russos e sírios na Líbia tem sido mencionada frequentemente desde o início do ano.
Zona desmilitarizada
O secretário-geral acrescentou ainda que as discussões realizadas pela ONU com representantes militares das duas partes exigiam “a partida de mercenários estrangeiros”, uma “cooperação antiterrorismo”, um “desarmamento e desmobilização” e previam até a possibilidade de um mecanismo de cessar-fogo.
Guterres mencionou a possibilidade de criar uma “zona desmilitarizada”, cujo controle seria confiado à missão da ONU presente na Líbia.
A mais recente atividade militar ao sul de Trípoli e na região de Tarhouna forçou quase 30.000 pessoas a deixarem suas casas, elevando o número de deslocados na Líbia para mais de 400.000, disse o chefe da ONU.