Um ex-militar chileno denunciou na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados que os Carabineros, corporação policial do país, teriam grampeado o telefone de deputados e senadores, além de líderes de movimentos sociais. A denúncia, feita na quarta-feira, está tendo forte repercussão nos meios políticos do país nesta quinta-feira.
O ex-policial Esteban Infante disse que os grampos são "frequentes", que teriam começado "pelo menos desde os tempos do então presidente (socialista) Ricardo Lagos (2000-2006)" e que a corporação teria adquirido equipamentos de tecnologia "de última geração" da Alemanha para as operações ilegais.
O advogado do ex-policial, Rubén Jerez, afirmou nesta quinta à rádio local Bio Bio que os grampos supostamente eram realizados a partir da Direção de Inteligência de Carabineros do Chile (Dipolcar) e que o Ministério Público "não investigou a situação como deveria".
Segundo ele, o ex-policial teria denunciado a irregularidade aos promotores de Justiça da nação. "E, além de parlamentares, grampearam também os telefones do embaixador do Paquistão e até do ex-presidente Lagos", afirmou o advogado.
"É uma denúncia grave e preocupante, que de alguma forma joga 20 anos de democracia no lixo e nos faz recordar os tempos da ditadura", disse o deputado do Partido Comunista Hugo Gutiérrez, à edição online do jornal La Tercera.
Infante declarou que Gutiérrez seria um dos parlamentares que tiveram o telefone grampeado, assim como o deputado Guillermo Teillier, os senadores Alejandro Navarro, do partido esquerdista MAS, e Alberto Espina, do conservador RN, e o deputado independente Sergio Aguiló.
Investigação e protestos
Gutiérrez pediu a abertura de uma comissão parlamentar investigadora para apurar o caso, pedido ecoado pelo presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, deputado Sergio Ojeda.
O porta-voz do governo do presidente Sebastián Piñera, ministro Andrés Chadwick, disse que as denúncias "devem ser esclarecidas". Segundo ele, "o governo é o principal interessado no esclarecimento" das denúncias feitas pelo ex-policial.
"Vamos colaborar com a investigação da Câmara dos Deputados" para saber se as denúncias têm fundamento, agregou Chadwick. A denúncia ocorre poucos dias após Piñera ter anunciado a segunda reforma ministerial de seu um ano e quatro meses de gestão, em meio aos protestos de estudantes, que há dois meses realizam manifestações pedindo ensino gratuito.
Nesta quinta, moradores da localidade de Dichato, uma das áreas afetadas pelo terremoto e tsunami do ano passado, também realizaram protestos, pedindo agilidade na reconstrução de suas casas e bairros.
Na semana passada, o presidente também enfrentou a primeira greve em quase 20 anos de trabalhadores da mineradora estatal Codelco. Nos últimos meses, a popularidade de Piñera atingiu os mais baixos índices para um presidente chileno em tempos democráticos, segundo o instituto Adimark, de Santiago.