Na próxima quinta-feira (31), uma delegação russa composta pelos proprietários da empresa «Mast», Serguêi Chak e Serguêi Makhov, além de geólogos, desembarca em São Paulo, de onde segue para o município de Barreiras, na Bahia, que possui uma enorme reserva de escândio. Pela primeira vez, russos e brasileiros esboçam uma parceria nessa área estratégica.
A viagem desses russos ao Brasil foi engendrada ainda durante a visita da presidente Dilma Rousseff a Moscou, em meados de dezembro de 2012. Na comitiva de empresários que a acompanhou, estava o ex-senador Andres Guzman, diretor para assuntos internacionais da Itaoeste Mineração e da OMF Mineral Star.
“A visita à Rússia foi um sucesso. Tivemos a oportunidade de nos reunir com a empresa 'Mast', que já tem tradição no trato de minerais raros há mais de trinta anos», contou Guzman à Gazeta Russa.
Rumo a Marte
Até 1993, quando o setor foi estatizado no país, a «Mast» explorava diversos minerais, e até mesmo urânio na Rússia. Apesar das mudanças no setor, a empresa seguiu trabalhando com produtos como escândio, tálio e lítio.
Seus clientes estão distribuídos por doze países, tais como Estados Unidos, China, Índia, França, Inglaterra, Alemanha. Para a norte-americana “Smith&Wesson”, por exemplo, a “Mast” fabrica um cano especial para armamento de repetição balística.
“Eles elaboram o produto em uma de suas empresas, de acordo com o 'cardápio' do cliente”, conta Guzman. “É uma empresa de ponta que atua não só na separação dos materiais, como também na qualificação, agregando valor a esses minerais.”
Segundo Guzman, os planos das empresas são amplos. “Ao lado da venda de escândio bruto, pretendemos assinar um acordo de transferência de tecnologia. Podemos gerar uma terceira empresa associada e instalar uma planta para agregar valor em território brasileiro e vender estes produtos acabados a empresas de altíssima tecnologia, tais como Boeing, Airbus, Nasa. O tratorzinho que chegou em Marte utiliza essas ligas especiais.”
No Brasil
Na Bahia, a delegação irá se reunir com o governador da Bahia, Jacques Wagner, e com alguns integrantes do seu secretariado, além de outros políticos, como o deputado federal Nelson Pellegrino.
“Nosso projeto na Bahia está estimado em 20 bilhões de dólares. O céu é o limite”, afirma Guzman. Em troca, de acordo com ele, o Brasil ganha divisas e a transferência de tecnologia. «A Embraer, por exemplo, compra os trens de aterrissagem na Europa ou nos Estados Unidos porque não existe no mercado local o domínio das ligas dos minerais raros com alumínio.»
Empresário de ponta
A reserva de Barreiras pertence a um dos empresários mais audaciosos do país. Olacyr de Moraes foi o mais jovem bilionário brasileiro. Chegou a ter mais de 40 empresas atuando em diversos ramos, tais como construção civil, transporte, agronegócio, pecuária, geração de energia, implementos agrícolas, armazenamento e estocagem de alimentos etc.
Em seu currículo de «self made man» constam duas realizações que fazem dele um dos maiores empreendedores da história brasileira. Nos anos 1980, ele ergueu, nas terras até então consideradas inóspitas do Centro-Oeste, um império agrícola. Fez jus ao epíteto de “Rei da Soja”.
Reinou também no milho e no algodão. Na década seguinte tornou-se o primeiro e único brasileiro a construir uma ferrovia no século 20 no país.
Já há dez anos o empresário pioneiro, que é proprietário da Itaoeste Mineração e da OMF Mineral Star, dedica-se aos minérios.
“Partimos para essa área porque mexemos muito com agricultura no Mato Grosso do Sul e no Mato Grosso, e constatamos que no solo do cerrado não se produzia por falta de nutrientes, principalmente de calcário para neutralizar a acidez. Começamos a pesquisar mais, e tivemos a sorte de encontrar uma mina de calcário lá. Começamos por esse até chegarmos aos minérios raros”, conta Olacyr.
Para ele, a Rússia é um mercado potencial para esses minérios. “Empresas estratégicas dependem muito de escândio e de tálio. O escândio é um mineral muito raro, e o mais caro entre os minerais raros. É um material estratégico em relação ao qual tanto a Rússia como os Estados Unidos, a França e a Alemanha ficam muito atentos”, completa.