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Debate sobre ação contra Irã divide Estados Unidos e Israel

Quando o presidente americano, Barack Obama, e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, se reuniram na Casa Branca no dia 5 de março, o principal assunto debatido foi o de como retomar as negociações com o Irã enquanto as sanções e tentativas de sabotagens contra seu programa nuclear continuam em vigor.

Mas eles ficaram divididos em duas questões centrais: caso o Irã decida construir uma arma nuclear, será que o Ocidente conseguiria detectar isso a tempo de impedi-lo? E, mesmo que fosse detectado, será que um ataque aéreo seria a melhor opção para lidar com a situação?

Das mais altas às mais baixas posições no escalão do governo, autoridades americanas dizem que, muito provavelmente, detectou-se a fabricação de uma arma nuclear por parte do Irã.

Entre os sinais, segundo elas, estão as tentativas por parte das autoridades do país em expulsar os inspetores internacionais, provas conseguidas por satélites de qualquer tipo de teste que lida com os diversos tipos de explosivos convencionais usados para desenvolver uma bomba e, muito provavelmente, os relatos de contatos dentro da comunidade científica iraniana que relatam uma mudança nas ações dos laboratórios administrados por Mohsen Fakhrizadeh, o iraniano que supostamente está liderando o programa de armamento nuclear.

Os israelenses, por sua vez, acreditam que a construção da bomba pode não ser detectada. E eles dizem que tudo, da história do Holocausto à geografia apertada do Oriente Médio, exige que eles avaliem o risco de ir contra o Irã com muito mais cautela do que Washington está fazendo.

"Por incrível que pareça, algumas pessoas se recusam a reconhecer que o objetivo do Irã é desenvolver armas nucleares", disse Netanyahu na noite do dia 5 de março em um discurso para o Comitê Americano-Israelense de Assuntos Públicos (AIPAC, na sigla em inglês), um grupo de lobby pró-Israel, rejeitando os argumentos dos Estados Unidos de que o Irã pode estar procurando apenas a opção de poder construir a arma nuclear. "O Irã afirma que está enriquecendo urânio para desenvolver a pesquisa médica do país. Claro que acreditamos."

Já as autoridades americanas de inteligência dizem que o Irã não chegou a tomar uma decisão final se irá construir uma bomba ou não.

Nas últimas semanas, em reuniões com assessores de alto escalão do Departamento de Segurança Nacional do governo Obama, Netanyahu foi cauteloso sobre a definição de até quando o Irã – de acordo com a sua definição do problema – chegar perto de atingir uma capacidade nuclear que ele julgaria que apenas um ataque militar poderia solucionar.

Em vez disso, ele vem alertando sobre os perigos de se envolver em negociações com o Irã, que poderia usá-las para desviar a pressão e dificultar ainda mais que Israel efetue um ataque. Os Estados Unidos e cinco outras nações anunciaram no dia 6 de março que concordaram em reabrir negociações com Teerã, embora suas expectativas sejam baixas.

Negociações

Desde que não passava de um candidato a presidente dos EUA, Obama afirma que entraria nessas negocições sem impor nenhuma condição. Netanyahu enxerga essa tática como sendo muito absurda. Em um discurso feito no Canadá antes de chegar a Washington, Netanyahu exigiu que, antes de começar qualquer negociação, o Irã tome certas medidas que o impeçam de evoluir seus esforços em direção à construção de uma bomba.
 

Os assessores de Obama dizem que as chances do Irã concordar com essas condições no início de uma negociação são praticamente nulas. E insistem que ainda há tempo para fazer mais uma tentativa de novas negociações.

"Não tenho dúvida de que se o Irã fosse tentar alguma coisa, nós perceberíamos", disse um alto oficial do governo algumas semanas atrás. Mas no passado houveram dúvidas. Há dois anos, Robert M. Gates, o então secretário de Defesa, perguntou: "Se a política do Irã é a de ir até limite, mas não a de montar uma arma nuclear, como você consegue adivinhar que eles realmente não tenham montado uma? Eu realmente não sei como é possível verificar isso."

A verdade é que a resposta a essa pergunta é desconhecida. Embora as agências de inteligência dos EUA sejam famosas por errar ao afimar de que Saddam Hussein estava avançando na construção de bomba de destruição em massa, quando não havia nenhuma prova concreta disso, elas também têm um longo histórico de terem perdido sinais de países que estavam chegando muito perto da arma nuclear.

Eles perderam os sinais do primeiro teste nuclear soviético, realizado em 1949, o que fez com que o presidente Harry S. Truman ficasse indignado. Eles também não conseguiram acompanhar os testes da China na década de 60, a Índia nos anos 70 e do Paquistão nos anos 80. Até hoje, mesmo depois da Coreia do Norte ter realizado dois testes nucleares, ninguém tem certeza se os engenheiros do país realmente sabem como construir uma bomba que funcione.

Os israelenses citam esses lamentáveis registros para sugerir que os americanos estão menosprezando as suas capacidades. "A visão israelense é a de que como eles têm menos capacidade para lidar com o Irã, eles têm menos tempo para permitir que isso continue", disse um oficial sênior dos EUA. "Eles pensam que porque temos mais capacidade para lidar com o Irã, temos mais tempo para resolver as coisas."

Essas questões acabam forçando ainda mais o argumento debatido pelos assessores de Obama e Netanyahu para uma segunda questão: será que um ataque aéreo seria a melhor maneira para impedir o progresso do programa nuclear iraniano?
 

O governo de Obama pergunta o que realmente aconteceria se um ataque atrasasse o progresso do Irã em apenas três ou quatro anos, unificando os líderes da oposição do país contra o Ocidente e fazendo com que o programa seja ainda mais sigiloso.

Como Rolf Mowatt-Larssen disse no dia 6 de março, um ex-oficial da CIA (agência de inteligência americana) e do Departamento de Energia com experiência na proliferação nuclear: "Ambos os lados dizem que não querem que o Irã construa uma bomba nuclear. Onde há uma diferença de opinião é que nós não achamos que um ataque aéreo irá resolver o problema, e os israelenses acham que sim."

*Por David E. Sanger

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