Após uma década no Afeganistão, os líderes da Otan se reúnem neste domingo para uma cúpula-chave na qual querem mostrar unidade, apesar de ainda persistirem fortes divergências sobre a data de retorno das tropas. O presidente americano, Barack Obama, será o anfitrião da reunião de dois dias em Chicago, na qual se busca mostrar uma frente comum para resolver o conflito no Afeganistão, enquanto nas ruas há cada vez mais protestos contra a guerra que provocou a morte de milhares de soldados e de civis, entre eles crianças.
Também o presidente afegão, Hamid Karzai, foi convidado para a cúpula, que será realizada no Centro de Convenções e Exposições McCormick Place e da qual participarão 60 líderes, entre eles 28 dos países integrantes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). A cúpula busca afinar o plano de transferência das responsabilidades de segurança para as forças locais até o fim de 2014, segundo o cronograma previsto e aprovado há dois anos.
O plano de Obama é debater e "avançar de forma eficaz" em um processo de transição, mas vários de seus colegas querem – e assim manifestaram – acelerar este processo e encerrá-lo até o fim deste ano. Entre eles está o novo presidente da França, François Hollande, que anunciou durante sua campanha eleitoral que pretendia retirar as tropas francesas do Afeganistão até o fim de 2012, dois anos antes da data prevista. Mas Obama quer mostrar a seus eleitores, diante das eleições presidenciais de novembro, que pode terminar com a guerra cumprindo o cronograma estabelecido, que prevê o retorno gradual dos mais de 130 mil efetivos até 2014.
"A esta altura, todos queremos ir embora do Afeganistão o mais rápido possível", afirmou Nick Witney, especialista em defesa do Conselho de Relações Exteriores Europeu. "O problema é que o Afeganistão enfrenta um futuro sombrio". Hollande não é o único líder a ter declarado que quer sair rápido da guerra impopular. Canadá e Holanda já modificaram suas missões para uma de treinamento, enquanto a presidente australiana, Julia Gillard, afirmou que suas tropas poderão deixar o país no ano que vem, apesar de ter voltado atrás e afirmado que ficarão até 2014.
Ainda nesse contexto, o secretário da Otan, Anders Fogh Rasmussen, insistiu que a cúpula consagrará o mandato de unidade da Aliança. Os líderes da Otan também debaterão a escassez de recursos em meio a uma devastadora crise da dívida. Os Estados Unidos foram até agora o principal contribuinte dos custos das operações militares sob reduções orçamentárias.
O Afeganistão espera também obter um acordo de financiamento de US$ 4,1 bilhões anuais para suas forças de segurança depois de 2014. Provavelmente este será o assunto a ser debatido pelo presidente americano e seu colega afegão, antes do início do encontro no domingo. "Tenho muito interesse em me reunir com o presidente Karzai e meus colegas em Chicago para debater os passos que reforçarão a soberania do Afeganistão e acabarão com a guerra", disse Obama.
Cerca de 130 mil soldados estrangeiros, a maioria de membros da Otan, combatem junto a cerca de 350 mil oficiais de segurança afegãos contra a insurgência dos grupos talibãs. Os debates não serão fáceis. Os Estados Unidos mostraram que buscam um papel menos dominante na Otan. Isso ocorrerá sobretudo porque a intervenção na Líbia expôs sérias deficiências no poder militar europeu e uma brecha transatlântica de suas capacidades, com Estados Unidos muito à frente de seus parceiros.
Em um de seus últimos discursos como secretário da Defesa americano, Robert Gates lançou a advertência de que se os governos da Europa fracassavam em aprender das lições da operação na Líbia e em investir em suas forças armadas, a Otan enfrentava "um futuro sombrio, se não obscuro".