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Crítica brasileira na ONU incomoda Venezuela

GENEBRA – As críticas feitas pelo governo de Dilma Rousseff à situação dos direitos humanos na Venezuela causaram irritação em Caracas, mas foram recebidas com alívio por ativistas da área.

Na sexta-feira, a Venezuela passou por um exame completo de sua política de direitos humanos na Organização das Nações Unidas (ONU). Na sessão, o Brasil abandonou a posição de aliado incondicional e criticou a situação de jornalistas e a falta de independência do Poder Judiciário, alertando que essas questões são fundamentais para a garantia dos direitos dos cidadãos.

Fontes do gabinete do presidente Hugo Chávez disseram ao Estado que a crítica do Brasil, apesar de discreta, foi "muito mal recebida" na capital venezuelana.

Na terça, depois de revisar dezenas de recomendações feitas por diversos governos na ONU, Caracas deu uma resposta sobre as propostas que aceitará pôr em prática. A Venezuela, porém, se recusou a assumir compromissos com a liberdade de imprensa e a independência do Judiciário, por terem partido de governos que não são considerados como "amigos".

Caracas também não incluiu duas das quatro propostas feitas pelo Brasil, indicando apenas que "estudaria" as sugestões. Uma das propostas que até agora não foi aceita é a de criação de um Plano Nacional de Direitos Humanos, como recomendou o Brasil. Outra proposta feita pelo Itamaraty que não teve apoio por enquanto foi a de abrir a Venezuela para que seja investigada por relatores da ONU.

Altos funcionários do governo de Caracas revelaram ao Estado que a decisão do Brasil de questionar na ONU a situação dos direitos humanos na Venezuela foi recebida pelo governo Chávez como um alerta de que a relação que mantinha com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não se repetirá com Dilma. "É mesmo um novo governo. Não será a mesma relação que tínhamos com Lula", comentou o alto representante, sob a condição de anonimato.

Oficialmente, o vice-chanceler venezuelano, Temir Porras, evitou entrar em polêmica. "Vamos estudar as propostas", disse ao Estado.

Quem comemorou a posição do governo brasileiro foram os ativistas de direitos humanos. "A grande surpresa foi a posição adotada pelo Brasil, que ousou romper a aliança que existe no continente para deixar claro que a Venezuela enfrenta problemas de direitos humanos", afirmou Ramón Muñoz, diretor da Rede Internacional de ONGs de Direitos Humanos.

"Uma posição mais forte do Brasil será fundamental para o trabalho das ONGs da Venezuela", disse Muñoz. "Um alerta de Brasília pode ter uma repercussão real na política venezuelana."

Durante sua resposta às propostas, Caracas indicou que não aceitará ingerência de nenhum país. No total, as 13 propostas para fortalecer a proteção à liberdade de expressão foram rejeitadas. Países como Canadá, Alemanha, Indonésia, Eslovênia e outros pediram que Chávez "tome medidas para proteger a liberdade de expressão e opinião".

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