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Crise mundial renova alerta a Brasília

A economia brasileira segue a tendência de desaquecimento mundial, por inevitável, e ninguém tacha de "marolinha" o que acontece no exterior – pois não é mesmo. Aliás, como não foi no final de 2008, início deste ciclo histórico de turbulências no planeta. E enquanto Brasília é pressionada por uma onda de greves de servidores, para inflar ainda mais a folha de salários da União – um dos três mais pesados itens das despesas públicas -, os sinais vindos de fora continuam a alertar que é preciso prudência.

Os últimos dias têm estado repletos de informações neste sentido. A série de notícias preocupantes foi reforçada ontem pelo comunicado feito em Londres de que o PIB inglês encolheu no segundo trimestre em 0,7%, a maior contração desde os primeiros três meses de 2009, quando ainda reverberava no mundo o impacto da quebra de Wall Street, deflagrada na falência do Lehman Brothers. Por nove meses consecutivos, a produção da economia inglesa retrocede. Em termos de PIB anualizado, a queda é calculada em 0,8%.

O dado negativo não é isolado. Nos Estados Unidos, depois de alguns sinais de perda de força na recuperação esboçada há algum tempo, informa-se que o Fed (BC americano) já estuda entrar novamente em ação, tema da pauta de uma reunião marcada para terça e quarta-feira da semana que vem. O Departamento de Comércio deve divulgar relatório com a indicação de que a economia cresce a uma velocidade, medida em doze meses, bastante abaixo dos 2%. E com isso a taxa de desemprego, estacionada em incômodos 8,2% – incômodos principalmente para Obama, e os desempregados, por óbvio -, não deve melhorar.

No mais recente de seus periódicos testemunhos perante o Congresso, Ben Bernanke, presidente do Fed, se declarou frustrado pelo fato de a economia parecer "atolada na lama". É bem provável, então, que da reunião da semana que vem saiam medidas na linha do "afrouxamento monetário", para injetar mais liquidez na economia.

Para completar o cenário de horizonte nebuloso, a agência de risco Moody"s colocou sob observação a própria economia alemã. Continua classificada como AAA, mas com viés de baixa. Faz sentido, pois, como tudo é interdependente, o desaquecimento europeu afeta talvez o principal motor da economia germânica, as exportações de produtos manufaturados. Além disso, não se pode esquecer que bancos alemães também guardam nos cofres "papéis podres" das dívidas grega, espanhola, portuguesa e italiana, para citar os casos mais notórios.

Enquanto isso, os sindicatos aliados do partido da presidente Dilma empurram para o Planalto uma fatura salgada de aumento nos gastos públicos em custeio embutidos em reivindicações mirabolantes de reajustes salariais. Justo quando demonstrar responsabilidade fiscal é a única vacina disponível para se evitar e/ou reduzir o contágio vindo de fora.

Noticia-se que aconselham a presidente a se curvar a algumas reivindicações, sob o argumento de que haverá mais dinheiro em circulação. Vende-se a Dilma o mesmo erro de 2009 e 2010, quando se inflaram despesas engessadas por lei e que reduzem ainda mais a já debilitada capacidade de investimento do Estado. Há uma armadilha à frente do Planalto.

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