O presidente da Coreia do Sul, Lee Myung-bak, prometeu nesta segunda-feira abrir uma porta ao diálogo com a Coreia do Norte, mas também responder com contundência a possíveis agressões, enquanto Pyongyang divulgou mensagem continuísta e de fidelidade incondicional ao novo líder, Kim Jong-un.
As relações entre as duas Coreias estão em um ponto chave após a mudança de poder em Pyongyang e neste momento tanto a política inflexível de Seul quanto o anúncio do Norte de manter a linha dura ameaçam estagnar os avanços entre os dois países, envolvidos em uma queda-de-braço entre a distensão e a resposta militar.
Lee Myung Bak garantiu nesta segunda-feira em sua habitual mensagem de Ano-Novo que a Coreia do Sul abrirá uma "janela" à melhoria das relações com o Norte, mas se mostrou taxativo que "responderá duramente" a qualquer "provocação", em clara referência aos ataques à embarcação Cheonan e a ilha de Yeonpyeong de 2010.
Os dois fatos, pelos quais Seul culpa Pyongyang, deixaram 50 mortos nas fileiras sul-coreanas e no fim de 2010 provocaram uma das maiores escaladas de tensão em anos entre as duas Coreias que, no entanto, perdeu força com o passar dos meses.
"O objetivo mais importante atualmente é garantir a paz e a estabilidade na Península Coreana", afirmou Lee, consciente dos potenciais efeitos negativos que uma etapa de sérias turbulências políticas na região poderia ocasionar na economia sul-coreana.
No domingo, o regime de Pyongyang divulgou sua mensagem de Ano-Novo à nação que, imbuído de um forte tom militar, serviu para dar às boas-vindas a Kim Jong-un, o novo líder consolidado no poder após ser proclamado "comandante supremo" das Forças Armadas do autoritário país comunista.
"O Exército deve depositar confiança absoluta e seguir Kim Jong-un. Se for preciso o Exército servirá de rifles humanos e bombas para defendê-lo até a morte", descrevia o editorial da Coreia do Norte em uma frase que captou a atenção da imprensa de todo o mundo.
Mais comedido em sua retórica, o presidente da Coreia do Sul aproveitou para lembrar a necessidade de retomar as conversas de seis lados orientadas à desnuclearização da Coreia do Norte.
Este ano marcará "um ponto de inflexão", confiou em seu discurso Lee Myung-bak, sobre a retomada desse processo multilateral que envolve as duas Coreias, os EUA, a China, a Rússia e o Japão, e que permanece estagnado desde que em 2008 Pyongyang abandonasse as negociações pouco antes de realizar um teste com mísseis.
Embora no fim de 2011 tenham ocorrido inúmeras tentativas de diálogo para retomar as conversas de seis lados, o editorial norte-coreano de Ano Novo não mencionou o assunto, dessa forma permanecem as incertezas semeadas após a repentina morte de Kim Jong-il em 17 de dezembro.
Coreia do Norte, que em troca de renunciar às armas nucleares espera obter concessões que permitam melhorar sua economia em constante crise, solicitou repetidamente o reatamento incondicional do diálogo, mas a Coreia do Sul e os EUA exigem adoção de ações prévias que demonstrem seu sério compromisso de desnuclearização.
A mensagem de Pyongyang, que prometeu dar continuidade às políticas de Kim Jong-il marcadas pela prioridade do setor militar e o isolamento do país, também recebeu resposta nesta segunda-feira no Sul, onde o ministro da Unificação, Yu Woo-ik, instou o seu vizinho a abertura.
"Espero que a nova liderança da Coreia do Norte dê um passo positivo em direção à abertura e o desenvolvimento, ao invés de uma passagem em direção ao isolamento e ao atraso", afirmou Yu, que desde que assumiu o cargo, em agosto, impulsionou políticas mais flexíveis na direção do país comunista.
O ministro da Unificação, principal autoridade de Seul em assuntos intercoreanos, sugeriu a possibilidade de aumentar as ajudas e as concessões econômicas à Coreia do Norte se esta optar por uma linha de maior abertura.
Nos últimos anos, a Coreia do Norte estabeleceu o utópico objetivo de se transformar em 2012 em uma das principais potências econômicas da Ásia, mas, imerso no isolamento, sua economia não avançou como ainda depende da ajuda humanitária para alimentar a população.
As duas Coreias estão tecnicamente em guerra desde que o conflito travado entre 1950 e 1953 terminasse com armistício sem que até hoje um tratado de paz definitivo tenha sido assinado.