Em meio à nova escalada de violência no leste ucraniano, Rússia, Estados Unidos, União Europeia e Ucrânia se reúnem nesta quinta-feira em Genebra para tentar debelar a crise. As expectativas para as negociações, no entanto, são baixas.
Três separatistas pró-Rússia foram mortos a tiros em um confronto com as forças ucranianas em Mariupol, perto do Mar Azov, segundo o ministro do Interior da Ucrânia.
Em um post no Facebook, Arsen Avakov disse que cerca de 300 separatistas atacaram uma unidade militar em Mariupol durante a noite, jogando bombas de gasolina, e as tropas abriram fogo.
As potências ocidentais dizem que a Rússia está ajudando os ativistas pró-Rússia a ocuparem edifícios no leste da Ucrânia. A divisão política no país levou à deposição do presidente em fevereiro e à pior crise entre os Estados Unidos e a Rússia desde a Guerra Fria.
A posição da Rússia sobre a Ucrânia oriental e a anexação da Crimeia em março continuam a causar preocupação nos países membros da Organização do Tratado Atlântico Norte (Otan) com países de minorias de língua russa, como a Letônia e Estônia.
Por causa disso, a organização anunciou na quarta-feira que estava reforçando as defesas dos seus membros orientais.
Mortes
Não houve confirmação independente sobre as três mortes relatadas pelo governo ucraniano.
A operação continua – a Ucrânia enviou reforços, incluindo helicópteros. Segundo Avakov, 13 dos autores do ataque foram feridos e 63 foram detidos. Ninguém das tropas do Ministério do Interior foi morto.
Mariupol fica no extremo sul da região de Donetsk, onde separatistas tomaram dezenas de edifícios oficiais.
Forças especiais ucranianas e veículos blindados foram ao auxílio das tropas do Ministério do Interior, relatou a agência de notícias ucraniana Unian.
Separatistas em retirada teriam ferido dois pedestres, incendiado um microônibus e também atirado em um prédio ao lado da unidade militar.
"Por meio de esforços conjuntos, policiais armados e a guarda nacional dispersaram a gangue depois de uma curta batalha, a maioria deles foi encurralada e desarmada", disse Avakov.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, reagiu.
"O que eu disse de forma consistente é que, cada vez que a Rússia tomar esses tipos de medidas que visam desestabilizar a Ucrânia e violam sua soberania, haverá consequências", disse ele.
Há relatos de que a Casa Branca está considerando enviar roupas e suprimentos médicos para as forças armadas da Ucrânia.
Conflitos
Enquanto isso, a operação militar contra os separatistas da Ucrânia enfrenta obstáculos.
Chamada de "antiterrorista" pelo governo de Kiev, a operação começou na terça-feira e tem como objetivo desalojar militantes pró-Rússia de edifícios das autoridades locais em cidades e vilas no leste da Ucrânia.
Ativistas pró-Rússia querem um referendo sobre maior autonomia para o Sudeste do país ou o direito de integrar a Rússia.
Em vários distritos as tropas ucranianas enfrentaram na quarta-feira forte oposição de cidadãos que se opõem ao novo governo em Kiev.
Na cidade de Kramatorsk, seis veículos militares foram interceptados por homens armados, que desarmaram os soldados ucranianos e enviaram alguns deles para casa de ônibus.
Um oficial ucraniano disse que não tinha "vindo para lutar" e nunca obedeceria ordens para atirar em suas "próprias pessoas."
Em outro incidente, centenas de moradores de Pchyolkino, ao sul de Sloviansk, cercaram uma coluna de 14 veículos militares ucranianos.
Depois que a multidão foi reforçada por homens armados pró-Rússia, houve negociação e as tropas de Kiev foram autorizadas a se retirar com seus veículos, mas apenas depois de concordar em descarregar seus rifles.
Nesta quinta-feira, o presidente russo, Vladimir Putin, atendeu ligações de pessoas de todo o país – inclusive da Crimeia – em um programa televisivo que é realizado anualmente.
Putin voltou a alertar para o risco de uma guerra civil e disse que a decisão da Ucrânia de enviar forças armadas para o leste em vez de tentar estabelecer um diálogo com a população de língua russa era um "crime grave".
Genebra
A reunião de Genebra é a primeira vez que ministros das Relações Exteriores dos Estados Unidos, da União Europeia, da Ucrânia e da Rússia vão discutir sobre a crise na Ucrânia desde que o impasse começou.
Os Estados Unidos e a União Europeia querem o fim das ocupações no leste da Ucrânia e que as tropas russas posicionadas perto da fronteira, estimadas em 40 mil militares, recuem.
Uma autoridade dos EUA, que falou durante a chegada do secretário de Estado americano, John Kerry, em Genebra, sublinhou que a Rússia deve "aproveitar esta oportunidade de reduzir as tensões" ou enfrentará um endurecimento das sanções.
O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Andriy Deshchytsya, pediu que a Rússia "não apoie atividades terroristas no leste da Ucrânia."
Já o Ministério das Relações Exteriores da Rússia acusou Washington de "falta de vontade persistente ou incapacidade de ver a realidade como ela é de fato". E disse ainda que os Estados Unidos impõem ao resto do mundo "uma percepção distorcida do que está acontecendo no sudeste da Ucrânia".
A Rússia, que se opôs fortemente à destituição do presidente ucraniano pró-Moscou Viktor Yanukovych, em fevereiro, propôs uma nova Constituição para o país, que dê mais poder para as regiões.