O extremista "Estado Islâmico" (EI, anteriormente Estado Islâmico no Iraque e no Levante – EIIL) é formado por militantes sunitas remanescentes do grupo Al Qaeda no Iraque (AQI).
Em 2003, depois de derrubar o ditador secular do Iraque, Saddam Hussein, os Estados Unidos declararam ilegal seu partido, o nacionalista árabe Baath, e dissolveram as forças militares do país. Sentindo-se marginalizados pela ascensão ao poder da maioria xiita, em meados do mesmo ano os correligionários sunitas de Hussein lançaram uma sangrenta insurreição contra a coalizão liderada pelos EUA.
De início formada predominantemente por ex-soldados e elementos leais a Saddam Hussein, a insurreição tornou-se cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi infiltraram suas alas.
Originalmente um pequeno delinquente, Zarqawi radicalizou-se num presídio da Jordânia e lutou no Afeganistão, de 1989 a 1992, contra o governo comunista em Cabul, que fora abandonado pela União Soviética.
Em 1994, o fundamentalista voltou a ser preso pela Jordânia, acusado de conspirar contra a monarquia do país. Porém foi libertado cinco anos mais tarde, no contexto da anistia geral concedida após a morte do rei Hussein.
De volta ao Afeganistão, Zarqawi foi forçado a fugir para o norte do Iraque, depois que a invasão liderada pelos EUA fez cair o domínio talibã em 2001. Em solo iraquiano, encabeçou a facção árabe do grupo militante curdo Ansar al Islam, antes de fundar a Al Qaeda no Iraque (AQI).
Guerra civil no Iraque e Despertar Sunita
Em 2006, a AQI bombardeou a mesquita Al Askari, na cidade de Samarra, danificando seriamente um dos sítios mais sagrados do islã xiita. O atentado desencadeou uma guerra civil brutal entre sunitas e xiitas, que se estendeu até 2008.
Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis e indiscriminados em seus ataques que tribos sunitas da província de Anbar, no Iraque ocidental, se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea. Ele foi sucedido por Abu Ayyub al Masri e Abu Omar al Bagdadi, e a AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII).
EIIL e ruptura com Al Qaeda
Em 2007, Washington mobilizou mais de 20 mil novos militares para o Iraque, na operação que ficou conhecida como surge (onda, em inglês). Forças americanas e iraquianas mataram Masri e Bagdadi durante uma investida conjunta em 2010. A violência no Iraque diminuiu consideravelmente durante esse período de presença militar americana intensificada, e o EII parecia estar basicamente derrotado.
Contudo, após a retirada das tropas dos EUA do país, efetuada entre junho de 2009 a dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al Bagdadi, o qual, segundo consta, convivera e atuara com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como "Estado Islâmico do Iraque e do Levante" (EIIL), a fim de refletir suas metas mais amplas.
Quando, em 2011, a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso causou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois Ayman al Zawahiri – líder desta desde a morte de Osama bin Laden pelas forças especiais americanas, em 2011– rejeitou a manobra.
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do aparente racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, o EIIL lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014.
O EIIL avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al Bagdadi como califa.
Este impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, forçando as mulheres a trajarem véus, sob pena de morte. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do califado após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também têm sido alvo de perseguição.
Atualmente o "Estado Islâmico" está mais forte do que nunca. Durante sua ofensiva armada, o grupo saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.