Pequim se tornou o principal fornecedor de equipamentos bélicos de Moscou. Novo ministro da Defesa de Putin não mudará esse rumo. Analistas veem preparativos para uma guerra contra a Otan.
Após a nomeação do economista Andrei Belousov como novo ministro da Defesa, o presidente russo, Vladimir Putin, vai visitar nesta semana o presidente chinês, Xi Jinping. A China tem sido, conforme um novo estudo dos EUA, o fornecedor mais importante de microeletrônica e máquinas-ferramentas para o setor de defesa russo desde 2023. Putin está demonstrando que deseja continuar a moldar indústria russa em direção a uma economia de guerra.
Já no final de 2023, a Sociedade Alemã de Política Internacional (DGAP) calculou em uma análise que, na pior das hipóteses, a Otan teria apenas cinco anos para manter seu potencial de dissuasão contra um possível ataque russo a um país da aliança militar ocidental.
O autor do estudo, Christian Mölling, chefe do Centro de Segurança e Defesa da DGAP, atualizou sua análise com vistas ao armamento da Rússia na guerra contra a Ucrânia. “Putin só vive por meio dessa guerra”, diz Mölling em entrevista à DW. “Ele precisa da guerra porque evocou espíritos demais, que podem não ser capazes de aceitar a paz.”
Confronto com a Otan?
O armamento da Otan está, portanto, diretamente entrelaçado com o fornecimento de armas das cerca de 50 nações que apoiam a Ucrânia sob a liderança dos EUA.
Em um estudo publicado em abril, o think tank americano Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS) chegou à conclusão de que “as reformas militares abrangentes em andamento de Putin” na guerra contra a Ucrânia “indicam que a Rússia pode estar se preparando para um confronto com a Otan nas próximas duas décadas, incluindo uma guerra convencional em grande escala”.
O instituto em Washington, que, de acordo com relatos da mídia americana, é próximo ao setor de defesa dos EUA, examinou o fornecimento de produtos do exterior para o setor de armas russo e a evasão das sanções ocidentais pela segunda vez desde o início da grande invasão russa na Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022.
Importações que burlam as sanções ocidentais
Para isso, os pesquisadores analisaram dados disponíveis publicamente sobre o comércio de mercadorias para a Rússia, especialmente em relação à microeletrônica para mísseis e bombas planadoras. O CSIS também analisou o comércio das chamadas máquinas CNC, ou seja, máquinas controladas por computador para processamento de metais.
Elas são usadas para a construção de projéteis de artilharia e outras munições. “O setor de defesa russo encontrou maneiras de adquirir o que precisa para aumentar a produção de armas”, afirma a análise do CSIS.
“O Kremlin continua a depender de componentes estrangeiros importados por meio de uma complicada rede de intermediários. Isso tem se mostrado fundamental para abastecer os militares russos na Ucrânia.”
De acordo com o relatório, a China se tornou o fornecedor mais importante da Rússia desde o início de 2023. “Quase todos os principais exportadores de microeletrônica estão sediados na China e em Hong Kong, com uma empresa sediada na Turquia.”
Alta das importações chinesas em março de 2023
As exportações de microeletrônicos da China para a Rússia dispararam em março de 2023. Naquela época, o presidente chinês, Xi Jinping, visitou em Moscou o presidente russo, Vladimir Putin.
“As importações russas de máquinas CNC de empresas chinesas – que são usadas para fabricar peças de precisão para vários sistemas de armas, desde munição até aeronaves – também aumentaram acentuadamente nos meses seguintes à reunião entre Xi e Putin em março de 2023”, afirma o CSIS.
Em vários gráficos, o instituto mostra que, entre março e julho de 2023, empresas da China e de Hong Kong forneceram eletrônicos à Rússia entre 200 mil e 300 mil vezes por mês.
Muitos drones para Moscou, poucos para Kiev
A comparação é particularmente interessante quando se trata dos drones fornecidos: “A Rússia recebeu pelo menos 14,5 milhões de dólares (R$ 74,7 milhões) em entregas diretas de drones de empresas comerciais chinesas, enquanto a Ucrânia só recebeu drones e componentes da produção chinesa no valor de cerca de 200 mil dólares, a maioria deles de intermediários europeus”, afirma o relatório do CSIS.
Algumas das empresas da China e de Hong Kong que fazem entregas para a Rússia também fazem negócios com a Ucrânia. Se elas estiverem sujeitas a sanções da UE ou dos EUA, isso levaria a um dilema. Afinal, as restrições comerciais poderiam, em última instância, afetar também a Ucrânia.
Por fim, os pesquisadores americanos concluem que “o setor industrial russo tornou-se completamente dependente da China no que se refere a máquinas-ferramentas e componentes importantes para a produção bélica”.
Isso é consistente com as investigações na Ucrânia. Lá, os mísseis, bombas planadoras e drones russos interceptados pelo sistema de defesa aérea ucraniano estão sendo desmontados em suas partes individuais.
“Desde o ano passado, o Exército ucraniano identificou principalmente eletrônicos de fabricação chinesa nas armas russas”, diz o especialista em sanções ucraniano Vladislav Vlasiuk, da administração presidencial ucraniana, em entrevista à DW.
Menos alta tecnologia nas armas russas
Ao contrário de antes da invasão da Ucrânia, a Rússia está produzindo cada vez mais munições e armas para as quais os componentes ocidentais de alta tecnologia são completamente desnecessários. Acima de tudo, as bombas planadoras e os drones de combate Shaed originalmente do Irã.
Desta forma, desde o início de 2024, a Força Aérea da Rússia tem sido cada vez mais bem-sucedida em superar as defesas aéreas ucranianas, que, por sua vez, sofre de escassez de mísseis de defesa ocidentais. Atualmente, é uma batalha de projéteis de artilharia de fabricação barata e de bombas planadoras com eletrônica chinesa contra mísseis antiaéreos ocidentais com muita tecnologia de ponta, dos quais a Ucrânia tem muito poucos.
“Se todas as importações de microeletrônica para a Rússia fossem interrompidas amanhã, eles não conseguiriam produzir as armas”, acredita Vlasiuk.
Assim, a Rússia já conseguiu mudar com sucesso seu setor de defesa para componentes mais simples, que são adquiridos principalmente da China. No primeiro ano da guerra, a Ucrânia conseguiu garantir vários produtos ocidentais de alta tecnologia através das armas russas – muitos deles originários da Europa e, principalmente, da Alemanha.
“Dos principais componentes e eletrônicos de que o Kremlin precisa para sua máquina de guerra, ele mudou de componentes militares personalizados de alto desempenho” para as chamadas tecnologias de uso duplo, que podem ser usadas tanto para fins civis quanto militares, “ou mesmo tecnologias puramente civis”, escreve o CSIS em sua análise. Em outras palavras, mercadorias que até hoje não são cobertas pelas sanções ocidentais.