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Começa a ‘parte difícil’ de negociações entre Irã e Ocidente

Jonathan Marcus
Analista diplomático da BBC

O Irã deu início nesta terça-feira, em Viena (Áustria), aos diálogos com seis potências mundiais, em busca de um acordo definitivo a respeito de seu programa nuclear.

É, agora, que começa a parte difícil.

Em novembro, o grupo P5+1 (China, França, Alemanha, Rússia, Reino Unido e EUA) e o Irã firmaram um acerto provisório, que limitava alguns aspectos do programa nuclear iraniano em troca de alívio às sanções internacionais.

O acerto estava longe do ideal, segundo muitos especialistas nucleares, por não suspender, por exemplo, o enriquecimento de urânio iraniano (antiga exigência do Conselho de Segurança da ONU). Mas o acordo conseguiu aumentar o acesso de inspetores internacionais e conter as atividades nucleares do país persa.

Só isso já é um progresso. No entanto, há pouco otimismo e muita desconfiança dos dois lados da mesa de negociação.

Ainda há incertezas quanto às intenções reais de Teerã. O país está preparado para reduzir seu programa nuclear a um nível mínimo para que todas as sanções sejam extintas, sua economia se levante e seu governo volte a ser um agente "comum" no mundo da política externa?

Ou o Irã quer apenas aliviar as sanções mas sem perder seu status de país nuclear, capaz em algum momento de avançar na busca pela bomba atômica (intenção negada por Teerã)?

Muito tem de ser resolvido para que se chegue a um acordo de longo prazo – desde complexas questões técnicas a fatores políticos e problemas internos. Confira alguns desses empecilhos:

Capacidade de enriquecimento

Muitos acreditam que o Irã tenha os conhecimentos técnicos para construir uma bomba – e nisso não há como voltar atrás.

Sob a ótica do Ocidente, o ideal seria que o Irã interrompesse totalmente o enriquecimento de urânio. É nisso que insistem autoridades israelenses.

Mas poucos dos analistas consultados pela BBC acreditam que essa interrupção vá acontecer.

Para eles, a meta de um acordo de longo prazo é estabelecer um nível de enriquecimento proporcional às necessidades práticas do Irã, sob supervisão internacional capaz de identificar com o máximo de tempo possível qualquer movimento iraniano em direção à bomba.

A meta seria reduzir a escala e escopo da capacidade iraniana de enriquecimento, reduzindo seu número de centrífugas para garantir que esse espaço de tempo seja o maior possível.

O reator de Arak

O reator de Arak, ainda em construção, é outra preocupação.

Quando entrar em operação, ele daria plutônio ao Irã, uma segunda rota possível em direção a uma arma nuclear.

Teerã alega não ter intenção de construir uma usina de reprocessamento para extrair o material necessário para tal, mas Arak permanece despertando desconfiança.

Para o Ocidente, o ideal seria que Arak fosse fechado ou substituído por um reator leve, de menor risco de proliferação nuclear.

O Irã já citou a possibilidade de fazer algumas alterações (não especificadas) no reator. Mas, novamente, seriam necessárias mais inspeções externas para averiguações.

Fatores em jogo

Essa inspeção ficaria a cargo da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que já expressou preocupações quanto a prévias pesquisas nucleares iranianas.

Dada a complexidade desses temas, é improvável que o avanço nas negociações seja rápido.

Existe a possibilidade de o acordo interino ser estendido por mais seis meses (ou mais) se necessário.

É possível chegar a um meio-termo que agrade tanto iranianos (mantendo um programa nuclear pacífico) e a comunidade internacional (assegurando que não haverá uma bomba atômica iraniana).

Mas muito depende de fatores externos: relações comerciais que desafiem as atuais sanções contra o Irã, por exemplo, podem estimular o Congresso americano a aprovar restrições mais duras – na contramão das atuais negociações e causando profundo descontentamento em Teerã.

Além disso, há a resistência interna dos ultraconservadores iranianos, bem como o papel de Teerã na guerra civil síria.

Em contrapartida, o fracasso das negociações poderia trazer novamente à tona insinuações de um ataque militar israelense contra o Irã.

E as consequências disso seriam sérias e imprevisíveis.

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