Eduardo Campos
A crescente divergência entre as políticas econômicas ameaça o Mercosul, mas técnicos discutem a possível integração financeira do bloco. Durante seminário realizado em Brasília, estudiosos da zona do euro e do bloco sul-americano debateram a experiência de integração na União Europeia, para tentar evitar os mesmos erros.
Além deixar os reguladores do Mercosul alertas sobre o que pode dar errado nesse tipo de processo, o seminário "Desafios para Aprofundamento da Integração Financeira do Mercosul – Lições da Experiência Europeia", promovido pelo Banco Central (BC), também buscou afastar a percepção de que a agenda está parada. As discussões em pauta buscam um modelo sólido de integração financeira entre os países da região envolvendo atuação de bancos, bolsas de valores e companhias de seguros.
Como o sistema financeiro é um vetor de propagação de crises, o que se pretende é um modelo resistente e bem supervisionado, que evite o risco de instabilidade para o sistema financeiro.
Para Maria Antonieta Del Tedesco Lins, professora do Instituto de Relações Internacionais da USP, os países-membros do Mercosul têm de decidir se ainda desejam caminhar juntos, já que recentes decisões têm apontado mais para a desintegração do que para a união.
Com o foco na integração financeira, Maria Antonieta vê dois momentos distintos nesse processo. Primeiro, facilitar a circulação de dinheiro entre os países-membros. O segundo passo seria permitir a mobilidade do capital no bloco, como a abertura de contas em bancos nos diferentes países e a compra de títulos públicos.
"O que faz com que essa dinâmica seja difícil, ou não aconteça a despeito do trabalho técnico dos BCs, é o fato de que as condições macroeconômicas são diferentes entre os países", diz a professora. Para ele, os países precisam se comprometer com as mesmas políticas de contenção da inflação, contas públicas transparentes e dados econômicos confiáveis.
Para Claes Belfrage, professor da Universidade de Liverpool, a história de integração no continente europeu não é mais o modelo a ser seguido. O principal problema, na avaliação de Belfrage, é que a Europa partiu para a integração monetária antes de completar uma série de etapas do que seria uma maior integração financeira. Para o professor, ainda não há um acordo no Mercosul sobre o que seria essa integração financeira, o que dificulta tomar o próximo passo.
David Marsh, presidente do Fórum das Instituições Monetárias e Financeiras Oficiais, fez um balanço da criação da zona do euro, que ele não considera positivo. A integração comercial ocorreu, diz, mas o quadro macroeconômico da região não ficou mais forte, a reaproximação entre França e Alemanha perde força, o euro não se tornou um rival para o dólar. E Alemanha está mais forte do que nunca, resultado de suas exportações.
Para Marsh, antes de se pensar em união monetária, é preciso trabalhar na direção de uma união fiscal. A integração gradual do comércio e das finanças é melhor do que uma "grande cartada", diz. Na opinião dele, é preciso cooperar com os vizinhos, mas nunca perder o controle de suas próprias políticas.