Serguei Lukianin
A aproximação com Mianmar ocorre sob a bandeira do desenvolvimento do diálogo humanitário com o governo semi-civil de Mianmar. Na últimas duas décadas Mianmar esteve praticamente isolada. Os EUA e o Ocidente, em essência, declararam moratória para quaisquer contatos com a junta militar, criticando este regime por perseguição a dissidentes. Em resposta os militares mianmarenses encararam cautelosamente quaisquer alusões a possíveis contatos. Quando em 2008 um ciclone arrasador atingiu Mianmar, navios de guerra dos EUA, que participavam dos exercícios Cobra Gold estavam dispostos a ajudar. Entretanto o governo de Mianmar rejeitou essa proposta.
Depois das eleições, realizadas no ano passado, começou no país a liberalização política e econômica. Tornaram-se possíveis coisas antes impensáveis. A líder da oposição, laureada do prêmio Nobel, Aung San Suu Kyi, que passou muitos anos presa, começou abertamente a atividade política e até mesmo pôde vencer o candidato do partido governante nas eleições complementares ao parlamento. Ela, pela primeira vez, se apresentou na televisão estatal.
Entretanto a situação dos direitos civis em Mianmar, como antes, estão longe do ideal. Aun San Suu Kyi, em particular, indicou a pressão das autoridades sobre os candidatos oposicionistas. Organizações internacionais de defesa dos direitos informam sobre ações duras em relação à minoria muçulmana. Na opinião dos defensores dos direitos, os militares continuam a cometer crimes contra a humanidade.
Mas os EUA reagem a estas acusações com uma tranqüilidade incomum neles. Uma prova é o debate sério sobre um possível restabelecimento de contatos militares entre Mianmar e os EUA, que representantes do Pentágono realizaram recentemente em Neipido. O convite de observadores de Mianmar para os exercícios Cobra Gold está relacionado não com o progresso na esfera dos direitos humanos – por enquanto bastante modesto – mas, em primeiro lugar, com o aumento do interesses dos EUA por seu status político-militar na Região Asiático-Pacífica.
O convite a Mianmar para os exercícios americano-tailandeses Cobra Gold significa o aumento da inquietação de Washington, a propósito de suas posições no Sudeste Asiático, nas condições de aumento da influência da China. Tanto Washington como os países que temem a República Popular da China estão dispostos a cooperação mais estreita. Até a criação de pequenas alianças político-militares.
Em caso de vitória de Mitt Romney nas eleições nos EUA, esta tendência pode adquirir um caráter mais alarmante ainda. Não se exclui um roteiro de criação de várias minis-OTAN na região, cujo principal objetivo será a contenção da China. Uma dessas uniões já está praticamente pronta – é a ligação dos EUA com a Coréia do Sul e o Japão. Outra pode formar-se no Sudeste Asiático. Onde os países, preocupados com a expansão econômica de Pequim e sua posição irreconciliável nos litígios territoriais, podem partir para uma cooperação ainda mais estreita com Washington.