Gabriela Loureiro
Há duas semanas, Anders Behring Breivik invadiu um acampamento juvenil em uma ilha norueguesa, atirando a esmo contra centenas de adolescentes – e matando 69 deles. Quanto mais progride a investigação sobre o caso, mais fica evidente que Breivik é um louco. Sua loucura, no entanto, é alimentada por angústias e temores compartilhados por muitos europeus. Eles têm sua raiz num fenômeno que os países do continente não descobriram como abordar: o afluxo de imigrantes para dentro de suas fronteiras. A integração de muçulmanos representa um desafio particular. Ele requer a superação daquele "choque de civilizações" de que falou o cientista político Samuel Huntington. Mas até mesmo os imigrantes de um país vizinho podem ser fonte de tensões, quando disputam os mesmos empregos com os habitantes locais. Capaz de experimentos extraordinários no campo da política, do direito e do comércio, a União Europeia tem se mostrado, no entanto, impotente diante do desafio que "os outros" lhe impõem.
A Europa foi um continente que, ao longo de séculos, exportou sua população, colonizando vastas porções do planeta. Só muito recentemente esse processo se inverteu. Estrangeiros – especialmente habitantes de antigas colônias na Ásia, no Norte da África e no Oriente Médio – começaram a avançar em massa para o continente sobretudo depois da II Guerra. A grande maioria buscava emprego ou fugia de conflitos locais, planejando permanecer no continente apenas por algum tempo. Mas começaram uma nova vida e lá criaram suas famílias. Esses filhos de imigrantes continuam, muitas vezes, sem ser vistos como europeus. Vivendo à margem, esses jovens se revoltam e podem chegar a atitudes extremas, como ocorreu na França, em 2005, quando as ruas de várias cidades foram tomadas por distúrbios e depredações. "Quando você tem um nome árabe ou é negro, você encara discriminação, racismo e xenofobia", afirma o filósofo e professor da Universidade de Oxford Tariq Ramadan, que lamenta o fato de que mesmo portadores de passaportes europeus sejam tidos – e enxerguem a si mesmos – como "alienígenas".
Cada um na sua – Para tentar entender como a própria população analisa o problema, a Comissão de Assuntos Internos da UE publicou seu primeiro Eurobarômetro, um meio de medir o progresso (ou não) dessa integração. Realizado em abril passado e publicado em julho, o levantamento abordou 700 habitantes dos países que mais recebem pessoas de outras nacionalidades (confira os 10 principais no infográfico abaixo). O que se constatou foi que tanto imigrantes quanto europeus concordam que são necessários três pontos principais para o sucesso desse projeto: falar a mesma língua, conseguir um emprego e compreender a cultura local. A maioria dos participantes da pesquisa também acredita que esse caminho é uma via de mão dupla, e são necessários esforços de ambos os lados – apesar de poucos se mostrarem dispostos a fazer algo. Nesta quinta-feira, por exemplo, um estudo do instituto Ipsos Mori mostrou que 71% dos britânicos acham que há imigrantes demais morando no Reino Unido, o que, para eles, está diretamente ligado à piora de serviços e indicadores sociais
A integração não tem sido bem-sucedida na Europa", reconheceu recentemente a comissária de Assuntos Internos da UE, Cecilia Malmström, ao divulgar uma nova estratégia voltada para os imigrantes de países subdesenvolvidos que vivem no continente. A proposta, no entanto, é bastante limitada. As principais recomendações ficam restritas à área educacional, como oferta de cursos do idioma local e do funcionamento da sociedade, a criação de políticas que estimulem a participação de imigrantes no mercado de trabalho e a qualificação de professores para lidar com a diversidade cultural. Não há regras gerais a serem seguidas por todo o bloco – o que parece ser uma receita certa para o fracasso. Enquanto cada governo se preocupar somente em "moldar" os imigrantes a sua sociedade, eles nunca avançarão.