Publicado Jornal Valor 17 Maio 2011
Jamil Anderlini e Kathrin Hille | Financial Times
As massas são a fonte mais importante e mais pura de informações de inteligência. Quando telefonemas anônimos via internet que convocavam para encontros dominicais em várias cidades chinesas provocaram uma afluência enorme de policiais fardados e à paisana, dois meses atrás, alguns consumidores de classe média e turistas ficaram surpresos diante do enorme número de agentes que a Secretaria de Segurança Pública tinha à sua disposição.
Porém mesmo essa faceta é apenas uma parte da grande máquina de vigilância à disposição das autoridades chinesas. Documentos de segurança interna que vazaram mostram que o partido comunista considera que, para que um Estado policial funcione corretamente, é preciso mais do que polícia.
"Colocamos as massas em seu legítimo papel como mais importante, mais direta e mais pura fonte de informação de inteligência", escreveu Yang Guangwei, comissário político do Departamento de Segurança Interna (DSI) em Shaoxing, no leste da China, em memorando que vazou para a internet no ano passado.
O DSI é o braço da burocracia de segurança encarregado de lidar com "criadores de problemas", como organizadores de abaixo-assinados, ativistas pelos direitos humanos e outros elementos considerados subversivos. O DSI construiu uma rede difusa de informantes. Não existem dados nacionais sobre a dimensão desse aparelho, mas fragmentos de informações que chegam ao domínio público, muitas vezes acidentalmente, sugerem uma organização de uma escala impressionante.
Em 2009, a Xinhua, agência de notícias oficial, surpreendeu os leitores com uma entrevista em que um chefe de polícia local se gabava do grande número de informantes que havia contratado. Liu Xingchen, chefe de polícia do condado de Kailu, na Mongólia Interior, disse que mais de 12 mil de seus 400 mil habitantes do condado estavam em sua folha de pagamento. Isso, explicou ele, faz parte de um plano baseado num esquema de pirâmide que concede a todas as delegacias policiais determinadas quotas de informantes.
A entrevista foi posteriormente removida do site Xinhua. Mais, porém, foi revelado no ano passado, quando o governo de Tianba, um município no sudoeste da China, publicou em seu site um documento contendo a remuneração de informantes.
Cada informante do DSI de pequenas localidades recebe 50 yuans (US$ 7,70) por mês "para reportar dois ou mais itens informativos de valor". O valor pode chegar a 200 yuans, dependendo do tipo de informação.
Existem, inclusive, gratificações de fim de ano: os três informantes que tiverem fornecido as melhores informações devem ser contemplados com 1 mil yuans, 600 yuans e 300 yuans, respectivamente, diz o documento – ao passo que os fornecedores de informações falsas devem ser removidos da rede.
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China – Governo vê 'massas' como fontes de informações – Link |