Os máximos líderes políticos da China e do Japão mantiveram nesta segunda-feira um encontro em Pequim no qual deixaram de lado suas tradicionais disputas e acertaram cooperar por uma península coreana estável, em meio à incerteza na região gerada pela troca de poder no regime do Norte.
O primeiro-ministro japonês, Yoshihiko Noda, e o presidente da China, Hu Jintao, chegaram a este consenso após um encontro no Grande Palácio do Povo, que teve como tema a Coreia do Norte e a repentina morte de Kim Jong-il, anunciada há uma semana.
"China e Japão trabalharão juntos para que a paz e a estabilidade na península coreana sejam realidade, e para garantir a segurança da região do nordeste asiático", comentou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Hong Lei, ao falar da reunião.
A fonte acrescentou que Coreia do Sul também deve participar desta cooperação e ressaltou que Tóquio e Pequim devem aproveitar a celebração do 40º aniversário da normalização de suas relações para promover "paz e prosperidade na região da Ásia-Pacífico".
A visita, a primeira de Noda à China – um país com o qual o Japão mantém longas disputas territoriais e desavenças históricas – foi projetada há várias semanas, motivo pelo qual não era consequência direta da morte de Kim, apesar de o fato ter sem dúvida marcado a agenda.
A China é o principal aliado da Coreia do Norte e seu maior fornecedor de ajuda humanitária e energética, enquanto para o Japão o regime de Kim foi um constante motivo de temores pela estabilidade regional, especialmente nos últimos anos, quando Pyongyang se transformou em potência nuclear.
Noda também se reuniu nesta segunda com o presidente da Assembleia Popular Nacional da China, Wu Bangguo, e um dia antes fez o mesmo com o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, em um encontro que teve um caráter mais econômico.
Na reunião, Wen indicou que em meio à incerteza econômica mundial "é necessário que China e Japão unam esforços para enfrentar desafios e aprofundar os laços recíprocos", e estimulou os dois países a comercializarem diretamente em iuanes e ienes, sem a mediação do dólar.
Ao mesmo tempo em que acontecia essa reunião, o Banco Popular da China emitia um comunicado na mesma direção, recomendando o uso direto de suas divisas nas transações entre ambos os Estados, algo que Pequim já iniciou com outras nações, como os vizinhos do sudeste asiático.
Noda também presidiu a assinatura de dois acordos bilaterais, entre eles um que cria um fundo de investimento bilateral para estimular a conservação energética e a proteção ambiental, destacou em Pequim o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores japonês Yutaka Yokoi.
Por outro lado, a partir das declarações de ambas as Chancelarias se depreende que não foram tratados em profundidade os temas que Tóquio e Pequim mais discutiram nos últimos anos, sobretudo as disputas territoriais no Mar da China Oriental.
No entanto, o porta-voz chinês Hong Lei destacou que os dois países "devem respeitar os consensos bilaterais para conduzir apropriadamente as diferenças com o fim de garantir um desenvolvimento estável dos laços a longo prazo".
A visita de Noda acontece dias depois que um pescador chinês foi detido pela guarda costeira japonesa enquanto trabalhava em águas reivindicadas pelos dois países, embora neste caso não pareça que o incidente tenha tido os mesmos desdobramentos diplomáticos e comerciais que uma detenção similar gerou há um ano.