Fabio Murakawa
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, de 58 anos, foi reeleito ontem na Venezuela, após o processo eleitoral mais disputado no país nas últimas décadas. Caso chegue ao fim do mandato, ele completará duas décadas de poder. Chávez, que chegou à Presidência em 1999, venceu o rival Henrique Capriles, um advogado de 40 anos e governador do Estado de Miranda, que adoutou um discurso moderado e conseguiu dividir o eleitorado. Não está claro se Chávez avançara mais na sua política econômica socialista.
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) venezuelano informou na noite de ontem que, com 90% dos votos apurados, o presidente Chávez tinha 54,42%, contra 44,97% de Capriles. A participação dos eleitores superou 90%. O conselho não divulgou parciais da apuração, sob alegação de não gerar tensão no país, e fez o anúncio somente quando não havia mais possibilidade de mudança no resultado.
Caso confirmados esses números, Chávez terá obtido uma vitória bem mais apertada do que em suas eleições anteriores. Na votação que o levou ao poder, em 1998, ele teve 56,2% dos votos contra Henrique Salas, que ficou com 39,97%. Em 2000, sob uma nova Constituição, ele venceu a disputa contra Francisco Arias, por 59,7% a 37,5%. Na última eleição presidencial, em 2006, conquistou sua vitória mais expressiva, com 63% dos votos contra 36% de Miguel Rosales.
Seis anos depois, essa vitória por uma margem menor parece denotar o cansaço de certa parte da população com o chavismo, com medidas como controle de preços e de câmbio, que têm reflexos diretos no dia a dia dos venezuelanos. Além disso, uma explosão dos índices de violência no país tirou muitos votos do presidente. Mas também mostra que a melhora nos índices sociais durante a era Chávez ainda dão uma forte sustentação política ao presidente.
De acordo com analistas, a doença de Chávez – um câncer do qual ele se diz curado, apesar de não haver confirmação independente – prejudicou seu desempenho, pois ele não pôde percorrer o país como em outras ocasiões para o corpo-a-corpo com o eleitor.
Em compensação, Chávez inflou os gastos sociais, financiados com os dólares do petróleo, recurso do qual a Venezuela tem as maiores reservas do mundo. Além disso, aumentou as suas aparições em cadeias nacionais de rádio e TV. Foram mais de 57 horas de cadeia desde o início da campanha, em junho, com cerca de uma hora e meia, em média, cada uma.
Capriles se aproveitou das fragilidades do chavismo. Com um discurso mais moderado do que o de costume para a oposição, ele percorreu mais da metade dos municípios venezuelanos e prometeu manter os programas sociais. Conquistou boa parte do eleitorado, mas não o suficiente para vencer.