Talita Eredia
Os mais jovens atuam como informantes do narcotráfico. Depois dos 12 anos, transportam a droga, vigiam vítimas de sequestro e, com 16 anos, estão prontos para as ações mais violentas, como sequestros e assassinatos. Organizações estimam que até 30 mil jovens foram recrutados pelos cartéis mexicanos.
Grande parte tem entre 13 e 17 anos e é recrutada pelos maiores cartéis do país: Los Zetas, Sinaloa e La Família Michoacán. "Muito do que acontece hoje no México corresponde ao cenários de uma guerra. Da mesma forma que se precisa de soldados numa guerra, os cartéis precisam aumentar seus efetivos", disse em entrevista ao Estado o diretor executivo da Rede pelos Direitos da Infância no México, Juan Martín Pérez García.
Os jovens mais vulneráveis, mais pobres e fora do sistema educativo, são mão de obra barata e facilmente descartada – assassinados ou entregues à polícia. "São como os meninos-soldado da África, já que estão na "primeira linha do fogo" e são os mais sacrificáveis", afirma a antropóloga Rossana Reguillo, da Universidade de Guadalajara.
O recrutamento começa com ameaças às famílias dos jovens. Depois vem a oferta de um salário. "Estudos apontam que em Ciudad Juárez, por exemplo, os adolescentes recebem US$ 1 mil por mês. Eles podem ainda receber pelos assassinatos. El Ponchis, jovem de 14 anos que será julgado amanhã (mais informações nesta página), recebia US$ 2 mil por homicídio", conta Pérez. Segundo ele, um trabalhador mexicano ganha em média US$ 5 por oito horas de trabalho.
O governo diz que os jovens são usados porque têm um tratamento diferenciado da Justiça. O diretor da Rede afirma que esse ponto de vista é incorreto. "Criminosos não calculam por quanto tempo um jovem pode ficar preso. Não lhes interessa tirá-los nem esperar que sejam libertados para usá-los novamente. Existe uma exploração, um uso instrumental de crianças."
Dos 40 mil mortos pelo crime organizado no México, pelo menos mil são jovens de até 18 anos.