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Brasil rejeita extraditar suposto espião russo para os EUA

Ministério da Justiça argumentou que pedido de extradição anterior feito pela Rússia já foi homologado pelo STF. Homem é acusado de usar identidade falsa brasileira por dez anos para espionar para o Kremlin.

O governo brasileiro rejeitou um pedido feito pelo governo dos Estados Unidos em abril deste ano para extraditar um suposto espião russo preso no Brasil, que também é alvo de um pedido de extradição feito pela Rússia.

Serguei Vladimirovich Cherkasov foi detido em abril de 2022 por autoridades holandesas ao usar um passaporte brasileiro falso, sob o nome de Viktor Muller Ferreira, para assumir um cargo de analista júnior no Tribunal Penal Internacional (TPI) em Haia – que investiga acusações de crimes de guerra na Ucrânia.

As autoridades holandesas concluíram que Cherkasov seria um agente do serviço de inteligência militar da Rússia que havia vivido no exterior por anos disfarçado com o objetivo de desenvolver uma identidade totalmente nova.

Cherkasov foi deportado para o Brasil, onde foi detido e denunciado por uso de documento falso – em julho de 2022, foi condenado em primeira instância pela Justiça Federal a 15 anos de prisão, e está preso em Brasília. Ele segue sendo investigado pelos crimes de espionagem, lavagem de dinheiro e corrupção.

Pedido de extradição também da Rússia

O anúncio de que Cherkasov não será extraditado neste momento foi feito pelo ministro da Justiça, Flávio Dino, no Twitter. “Quanto ao cidadão russo Serguei Vladimirovich Cherkasov, esclareço que o parecer técnico do Ministério da Justiça, acerca de dois pedidos de extradição, está embasado em tratados e na lei 13.445/2017. No momento, o cidadão permanecerá preso no Brasil”, escreveu Dino.

Em uma nota, o Ministério da Justiça esclareceu que havia considerado o pedido de extradição feito pelos Estados Unidos improcedente, “uma vez que o acusado já possui pedido de extradição homologado pelo STF”.

O órgão refere-se a um pedido de extradição feito no ano passado pela Rússia, já autorizado pelo Supremo Tribunal Federal, cuja execução depende da finalização das investigações contra ele no Brasil e de autorização do Poder Executivo.

O pedido de extradição da Rússia afirma que ele estaria sendo procurado no país por tráfico de drogas.

Acusações por espionagem e fraudes nos EUA

O Departamento de Justiça americano acusou Cherkasov de agir ilegalmente como agente de uma potência estrangeira enquanto ele estava nos Estados Unidos. As autoridades disseram que, enquanto estudante em Washington, ele coletou informações sobre americanos não identificados, as quais passou para seus encarregados.

Além de espionagem, o russo também foi denunciado pelas autoridades americanas por fraude de visto, fraude bancária, fraude eletrônica e outras acusações decorrentes de suas atividades nos EUA.

Segundo a imprensa americana, o FBI suspeita que o russo utilizou a identidade brasileira falsa durante dez anos para espiar para Moscou em diferentes países.

“Melhor feijoada de Brasília”

Ao deportar Cherkasov para o Brasil no ano passado, o Ministério do Interior da Holanda publicou em sua página na internet um documento de quatro páginas apresentando a biografia fictícia do suposto espião como cidadão brasileiro.

As autoridades holandesas afirmam que o documento foi provavelmente escrito em meados dos anos 2010 pelo próprio Cherkasov, para ajudá-lo a memorizar os detalhes de sua vida fictícia.

No texto, ele diz ter nascido em 4 de abril de 1989, em Niterói, no estado do Rio de Janeiro, e descreve sua vida pessoal conturbada por dificuldades financeiras e abandono paterno.

O documento, com muitos erros de português, também traz detalhes sobre um clube onde ele gostava de ouvir música eletrônica e fala sobre seu restaurante favorito em Brasília, que tem “a melhor feijoada da cidade”.

“Cherkasov usava uma identidade de fachada bem construída, pela qual ele escondia todos os seus laços com a Rússia em geral, e com o GRU em especial”, afirmou na época o comunicado do Ministério do Interior da Holanda. As autoridades holandesas disseram ainda que, se ele tivesse trabalhado no TPI, poderia ter acessado informações “altamente valiosas” no âmbito da investigação do tribunal sobre crimes de guerra na Ucrânia, ou até mesmo influenciado processos criminais na corte em Haia.

Segundo a polícia brasileira, Cherkasov assumiu a identidade falsa de um brasileiro cujos pais morreram, e morou na Irlanda e nos Estados Unidos por vários anos, acrescentando que ele havia retornado ao Brasil para preparar sua mudança para a Holanda. Cherkasov teria usado o seu passaporte falso para entrar e sair do Brasil pelo menos 15 vezes entre 2012 e 2022. 

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