Eliane Oliveira
O esfriamento das relações entre Brasil e Irã – que ficou ainda mais evidente com a exclusão do país na visita que o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, começou ontem à América Latina – já tem reflexo direto no comércio bilateral. De janeiro a novembro do ano passado, as importações de produtos persas caíram quase 73% frente ao mesmo período de 2010 devido, principalmente, ao embargo econômico promovido pelas potências ocidentais.
Dados do Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex) mostram que, nos últimos meses, o Brasil comprou menos tapetes, produtos químicos, pedras preciosas, pistache, uvas secas, suco de alcaçuz, óleos e farois para automóveis. As importações despencaram de US$121,4 bilhões para US$32,9 bilhões em 2011.
Em uma avaliação reservada, o governo tem sido informado que os empresários brasileiros temem retaliações de parceiros internacionais, caso furem o bloqueio. Essa situação foi confirmada pelo presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.
– O comércio hoje é globalizado, e quem estiver de fora do embargo acaba excluído também – afirmou Castro.
Segundo o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil, é nítida a diferença entre a presidente Dilma Rousseff e seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva:
– O ex-presidente Lula é mais político e Dilma é mais pé no chão. Ideologia é ideologia e comércio é comércio. Em comércio não pode haver ideologia.
O giro de Ahmadinejad se limitará a Venezuela, Nicarágua, Cuba e Equador, tradicionais aliados do Irã e que têm como bandeira um forte discurso contra os Estados Unidos, país com o qual Dilma Rousseff vive um intenso processo de reaproximação. Segundo funcionários da área diplomática, não houve qualquer tipo de solicitação de Teerã para que o presidente iraniano passasse por Brasília, o que não deixa de ser um alívio, confidenciou uma fonte.
As boas relações com o Irã sempre foram alvo de críticas ao ex-presidente Lula que, em 2009 – ano em que Ahmadinejad visitou o Brasil -, não conseguiu emplacar um acordo que envolveu a Turquia e Teerã em torno da política iraniana daquele país do Oriente Médio. O acordo foi atropelado pelos EUA, que passaram a defender sanções aos iranianos.
No fim de 2010, pouco antes de assumir a Presidência da República, Dilma Rousseff declarou ao jornal americano "Washington Post" seu repúdio à pena de morte por apedrejamento, à qual havia sido condenada a iraniana Sakineh Ashtiani. Meses depois, a delegação brasileira votou a favor, no Conselho de Direitos Humanos da ONU, do envio de inspetores para apurar abusos naquele país.