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Brasil reafirma diplomacia e preocupa Irã

A diplomacia brasileira, sob o comando de Dilma Rousseff, tem sabido aproveitar a crise líbia para, na prática, marcar a posição defendida pela presidente de intransigente defesa dos direitos humanos, acima de conveniências políticas e ideológicas.

A eventualidade de o Brasil estar na presidência do Conselho de Segurança da ONU, quando chegou às Nações Unidas a questão dos injustificáveis ataques do ditador Muamar Kadafi à população líbia com armas de guerra, realçou a nova e bem-vinda posição do Itamaraty. Sem tergiversações, a embaixadora Maria Luiza Viotti, na condução dos trabalhos do Conselho, condenou Kadafi, e ainda apoiou proposta, aprovada no Conselho de Direitos Humanos, de investigação dos crimes praticados pelo ditador. O próprio chanceler brasileiro, Antonio Patriota, já havia considerado "inaceitável" a violência desfechada por Kadafi.

Este correto posicionamento foi confirmado em Genebra, onde se reúne o Conselho de Direitos Humanos da ONU, e, anteontem, reafirmado em pronunciamento da ministra da Secretaria de Diretos Humanos, Maria do Rosário. Perante a 16ª Sessão do Conselho, a ministra criticou as ditaduras do Oriente Médio e do Norte da África. "Nenhum governo se sustentará pela força ou pela violência, nenhuma liderança perdurará em meio à exclusão social, ao desemprego e à pobreza. Nenhum povo suportará em silêncio a violação de seus direitos fundamentais." Chama a atenção o fato de Maria do Rosário, sem falar em nome de países, ter ressaltado que o Brasil defende o debate na ONU de violações dos direitos humanos "onde quer que elas ocorram."

Encontra-se, então, em contagem regressiva – se o Brasil continuar coerente – mais um choque explícito com outro aliado da diplomacia companheira, o Irã, cuja ditadura teocrática tem reprimido com grande violência os movimentos oposicionistas. O momento-chave ocorrerá no final do mês, quando o Conselho discutirá medidas para tentar reduzir agressões aos direitos humanos pelo regime dos aiatolás e de Ahmadinejad.

O próprio governo iraniano manda recados para que o Brasil volte à posição de silêncio diante de atrocidades cometidas por aliados – principalmente se forem inimigos dos Estados Unidos. A Líbia é a primeira exceção. Em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", em Genebra, o chanceler iraniano, Ali Akbar Salehi, reconheceu que "pode haver mesmo conflitos em certas áreas na relação bilateral" (com o Brasil). Começa a ser inevitável o distanciamento em relação a parceiros eleitos pela diplomacia companheira. Na votação da proposta de investigação da Líbia de Kadafi, o Brasil já ficou do outro lado de Venezuela e Cuba. Há pouco, o caudilho Hugo Chávez, muito próximo de Kadafi, lançou a delirante ideia de uma "comissão de paz" para mediar o conflito entre o ditador e a oposição.

Ora, assim que Muamar Kadafi começou a bombardear o próprio povo, qualquer mediação ficou inviável. É indisfarçável o interesse do caudilho em salvar o amigo líbio. Trata-se de uma pirotecnia que não pode tirar o Brasil do prumo no seu posicionamento diante da crise.

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