O Cristo Redentor que há quatro anos aparecia decolando na capa da revista britância The Economist, ilustrando o rápido crescimento da economia brasileira, voltou a figurar na publicação. Desta vez ele aparece desorientado e prestes a se chocar com o chão, numa referência ao crescimento vacilante e à falta de reformas estruturais.
A revista diz que o crescimento de 0,9% em 2012, em contraste com a expansão de 7,5% de 2010, levou muita gente no país a pensar que os anos de bonança podem ter sido mais um "voo de galinha". E lembra ainda que o "milagre brasileiro" dos anos 1970, que foi sucedido por anos de hiperinflação.
Com o título questionando se o Brasil "pode ter estragado tudo", um dos textos diz que a desaceleração econômica não é um fenômeno exclusivamente brasileiro e ressalta que nos últimos anos 25 milhões saíram da pobreza como resultado de programas sociais como o Bolsa Família.
Reformas
No entanto, segundo a Economist, "O Brasil tem feito muito pouco para reformar o estado nos anos de bonança". A revista se refere à alta carga fiscal e a incapacidade de investir em infraestrutura e cortar gastos do país.
"Embora seja uma país jovem, o Brasil gasta parte importante de sua renda em aposentadorias, como nos países do sul da Europa, onde a proporção de idosos é três vezes maior", diz.
"Por outro lado, embora seja um país de dimensões continentais e um sistema de transporte ineficiente, seu gasto em infraestrutura é tão pequeno quanto um biquíni fio dental."
A Economist diz ainda que ao invés de atacar as deficiências, a presidente Dilma Rousseff criou outros problemas ao interferir demasiadamente na economia, "assustando" e afastando investidores. A revista chega a chamar a presidente de "Dilma Fernandez", em uma comparação com a colega Cristina Fernandez de Kirchner, líder do que chama de "caótica Argentina".
A publicaçã critica a diplomacia econômica do Brasil nos últimos anos, dizendo que o país "se escondeu atrás do Mercosul, um bloco regional que se tornou um clube de bate papo de esquerdistas, e da moribunda rodada Doha".
E afirma que Dilma ainda tem a chance de iniciar as reformas necessária, mas que, por ora, "os eleitores do Brasil tem poucos motivos" para reeleger a presidente.
Preso ao chão
Em um segundo artigo, intitulado "Grounded", algo como preso ao chão, a Economist ressalta os avanços feitos pelo país nos últimos anos. Diz que "quando a luta era pela sobrevivência, a economia e o emprego eram a principais preocupações" do governo.
No entanto, "agora que as pessoas estão um pouco melhor, o alarmante estado da infraestrutura e dos serviços públicos estão no topo das preocupações", afirma a revista. Isso estaria por trás da onda de protestos que irrompeu tão repentinamente como uma "tempestade tropical".
O artigo chama a atenção também para os "riscos da complacência", ressaltando a necessidade de aumentar o investimento em infraestrutura cortando gastos públicos e não aumentando impostos.
"O problema mais urgente que o Brasil precisa atacar é a perda aguda de competitividade", conclui a Economist.