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Brasil investiga apreensão de material radioativo na Bolívia

Fabio Murakawa


Após apreensão de duas toneladas de material radioativo em um edifício em La Paz, o Valor apurou que a Polícia Federal e a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) investigam uma possível rota de contrabando de urânio extraído em solo brasileiro rumo à Venezuela e que poderia ter como destino final o Irã.

O risco foi evidenciado na noite de anteontem, quando o ministro do Interior da Bolívia, Carlos Romero, anunciou que a polícia havia apreendido duas toneladas de urânio na garagem de um edifício no centro da capital. Quatro pessoas foram presas na operação, fruto, segundo o ministro, de uma investigação que durou 45 dias.

O prédio onde foi feita a apreensão é vizinho à Embaixada dos Estados Unidos e à residência oficial do embaixador do Brasil em La Paz, Marcel Biato. Além disso, o edifício abriga os adidos militares da Venezuela.

Ontem, no entanto, Romero recuou, dizendo que "a possível existência ou não de urânio ainda merece uma investigação científica". Ele encarregou o Instituto de Tecnologia Nuclear e o Serviço de Geologia e Minas do país de fazer as análises. Disse ainda, sem explicar como chegou a tal informação, que o material – uma série de rochas embaladas em sacolas de pano na caçamba de uma camionete – teria saído do Brasil, passando pela Bolívia com destino ao Chile, de onde seria embarcado para a Europa.

Uma fonte do governo brasileiro disse ao Valor que a Polícia Federal e a Abin já investigam rumores sobre uma rota de contrabando de material radioativo extraído no Brasil. "Se o material apreendido contiver efetivamente urânio, isso confirma indícios de que existe uma rota de comércio de urânio clandestino exportado do Brasil pelo Estado boliviano do Beni", disse a fonte. "Já ouvíamos isso, estávamos tentando investigar. Uma de nossas fontes policiais tem nos confirmado esses rumores. Agora, a Abin e a Polícia Federal terão que se envolver oficialmente no caso."

A suspeita em Brasília é que o urânio entre ilegalmente na Bolívia e seja exportado como outro minério para o Chile. Seguiria então para a Venezuela e, de lá, chegaria até o Irã, país aliado do regime do presidente venezuelano, Hugo Chávez, e que está sob embargo internacional por suspeitas de que seu programa nuclear seja destinado a construir uma bomba atômica. Consultada pela reportagem sobre uma possível investigação do caso, a Polícia Federal não respondeu.

No momento da apreensão, dois dos detidos estavam sobre a caçamba da camionete sem nenhum tipo de proteção, segundo o jornal boliviano "La Razón".

Ontem, o presidente da estatal Corporação Mineira da Bolívia, Héctor Córdova, descartou que o material seja perigoso, na forma em que foi encontrado. "Em um primeiro momento, pensou-se que era mineral que contivesse urânio. Mas isso foi rapidamente descartado, pelo menos como urânio radioativo, pelas medições feitas com os equipamentos adequados ao longo do dia [terça]", disse Córdova em entrevista coletiva.

Ele disse ainda que o país não produz urânio e que o material apreendido, "pelas características do mineral", pode ser tântalo, usado na fabricação de componentes eletrônicos de produtos como telefones celulares e computadores.

Segundo Luiz Filipe da Silva, assessor da presidência da estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB), o Brasil é o maior produtor de nióbio do mundo, metal frequentemente encontrado na natureza junto com o tântalo. Segundo ele, é possível encontrar urânio na mesma rocha que contém o tântalo. "Em tese, é possível extrair urânio das fontes mais exóticas. O nióbio é muito valioso, o tântalo, mais ainda, e o urânio pode ter diversas utilizações", disse. "Mas eu desconheço qualquer instalação que retire o urânio desse tipo de fonte."

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