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Brasil adotou política “confusa” em Honduras, diz embaixadora

A escolhida pelo Departamento de Estado para assumir a embaixada americana em Tegucigalpa, Lisa Kubiske, julga que o Brasil "não se esforçou" para encontrar uma solução para a crise política em Honduras.

A crise gerou um dos principais pontos de discordância entre as diplomacias brasileira e americana no fim do governo Lula.

Para a então encarregada de negócios, que estava à frente da embaixada em Brasília no período, o governo Lula adotou uma política "confusa" em relação a Honduras e ficou "sentado no banco de trás", esperando que o impasse fosse resolvido pelos Estados Unidos.

Em telegramas enviados de setembro a dezembro de 2009, vazados pelo site WikiLeaks, Kubiske relata a Washington impressões sobre a ação do Itamaraty em relação ao presidente deposto, Manuel Zelaya, e ao governo golpista de Roberto Micheletti.

"É notável que o governo brasileiro aparentemente não tenha feito esforços para se aproximar da região ou assumir um papel mais assertivo na busca de uma resolução", diz ela em 2 de outubro.

Na mesma mensagem, Kubiske afirma que o país parecia apenas esperar que os EUA, a OEA (Organização dos Estados Americanos) e as Nações Unidas salvaguardassem os interesses brasileiros.

O texto foi escrito na semana seguinte ao retorno de Zelaya, clandestino, ao país e sua chegada à embaixada brasileira em Tegucigalpa, onde ficaria abrigado nos quatro meses seguintes.

Na sua avaliação, porém, a "ausência de ação decisiva" do Brasil refletiu o desconforto que o governo Lula sentiu ao se ver "no centro político e sob os holofotes de uma crise que está fora da sua esfera de influência histórica".

DESPREPARADOS
A diplomata afirmou em um telegrama de setembro que os brasileiros foram "pegos de surpresa por Zelaya" e que estavam "despreparados" para lidar com as consequências da decisão de recebê-lo. "Eles claramente temem que a situação possa se tornar desesperadora rapidamente e veem os EUA como um país-chave para uma ajuda imediata e assistência internacional", disse.

Procurada pela Folha, a embaixada dos EUA em Brasília disse que Kubiske não se manifestaria. A diplomata esteve à frente da representação entre agosto de 2009 e fevereiro de 2010, antes da chegada de Thomas Shannon.

Em discurso no Comitê de Relações Exteriores do Senado americano, no último dia 8, a futura embaixadora disse que a atmosfera política em Honduras continua "polarizada e frágil" e que espera de Zelaya um "papel construtivo" daqui para a frente.

Após 16 meses de exílio, ele voltou a Honduras em maio.

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