JOSÉ BOTAFOGO GONÇALVES foi
embaixador na Argentina.
IVAN RAMALHO é presidente da
Associação Brasileira de Empresas de Comércio Exterior (Abece).
O crescimento expressivo do comércio entre Brasil e Argentina, de US$ 9,2 bilhões em 2003 para quase US$ 40 bilhões em 2011, representa um recorde e coloca a Argentina como o 3 maior parceiro comercial do Brasil.
Este intercâmbio reflete a forte sinergia que existe entre os dois países, representada pelo alto grau de integração entre os diversos setores, na indústria, no agronegócio e nos serviços, e pelo relevante fluxo de investimentos argentinos no Brasil e vice-versa, tornando esta relação estratégica para os dois mercados.
Nos últimos meses, a Argentina vem tentando obter um maior equilíbrio no comércio com o Brasil, que obteve saldo comercial de US$ 5,8 bilhões em 2011. As medidas restritivas adotadas com esse objetivo fizeram com que as exportações brasileiras para a Argentina caíssem 23% em abril de 2012, comparativamente ao mesmo mês do ano passado.
Existe uma clara disposição dos governos e do setor privado dos dois países de tratar o assunto pela via da negociação, diante do fato de que os prejuízos ocorrem de ambos os lados, pela forte interligação entre os setores produtivos.
A queda das vendas brasileiras para a Argentina, além de ser um problema para os exportadores brasileiros, afeta importadores argentinos que abastecem sua indústria com insumos, máquinas e produtos oriundos do Brasil.
Entretanto, apesar dos esforços de negociação, são as divergências que acabam por ocupar os noticiários locais. O clima de acirramento gerado tem seguidamente contribuído para ofuscar a importância desta relação, tanto no âmbito doméstico como internacional.
Em um contexto de crescente internacionalização de processos produtivos, e reconhecendo o potencial que a relação Brasil-Argentina carrega, é interessante não apenas melhor informar a opinião pública destes países, como explorar caminhos nos âmbitos político e econômico para aprofundar esta integração.
Um melhor entendimento da importância desta relação contribuirá para a construção coordenada de estratégias nacionais, regionais e globais. Construir uma agenda positiva de trabalho entre os dois países é o caminho mais adequado para superar este momento de crise e reforçar os laços de parceria que unem Brasil e Argentina e constituem um fator de equilíbrio para toda a região.